negação

O que testemunha, de modo mais convincente, a constante e difundida, ainda que dissimulada, revelação do nada (Nichts) em nosso ser-aí (Dasein), que a negação (Verneinung)? Mas, de nenhum modo, esta aproxima o “não” (Nein), como meio de distinção e oposição do que é dado, para, por assim dizer, colocá-lo entre ambos. Como poderia a negação também produzir por si o “não” se ela somente pode negar se lhe foi previamente dado algo que pode ser negado? Como pode, entretanto, ser descoberto algo que pode ser negado e que deve sê-lo enquanto afetado pelo “não” se não fosse realidade que todo o pensamento enquanto tal, já de antemão, tem visado ao “não”? Mas o “não” somente pode revelar-se quando sua origem, o nadificar do nada em geral e com isto o próprio nada foram arrancados de seu velamento. O “não” não surge pela negação, mas a negação se funda no “não” que, por sua vez, se origina do nadificar do nada. Mas a negação é também apenas um modo de uma revelação nadificadora, isto quer dizer, previamente fundado no nadificar do nada.

Com isto está demonstrada, em seus elementos básicos, a tese acima: o nada é a origem da negação e não vice-versa, a negação a origem do nada. Se assim se rompe o poder do entendimento no campo da interrogação pelo nada e pelo ser, então se decide também, com isto, o destino do domínio da “lógica” no seio da filosofia. A ideia da “lógica” mesma se dissolve no redemoinho de uma interrogação mais originária.

Por muito e diversamente que a negação – expressamente ou não – atravesse todo o pensamento, ela, de nenhum modo, por si só, é o testemunho válido para a revelação (Offenbarkeit) do nada pertencente essencialmente ao ser-aí. Pois a negação (Nichtung) não pode ser proclamada nem o único, nem mesmo o comportamento nadificador condutor, pelo qual o ser-aí é sacudido pelo nadificar do nada. (MHeidegger O QUE É METAFÍSICA?)