Enquanto INSISTÊNCIA DO SER-AÍ, cuidado é a decisão antecipadora da verdade do ser e o aprisionamento que suporta, sobretudo, algo referido no aí; o fundamento desse “sobretudo” é a retenção do ser-aí. Essa retenção afina apenas enquanto pertencimento à verdade do ser, que se apropriou em meio ao acontecimento. (tr. Casanova; GA65: 13)
O acontecimento apropriador, no entanto, não tem como ser de maneira alguma re-presentado como uma “ocorrência dada” e como uma “novidade”. Sua verdade, isto é, a própria verdade, só se essencia no abrigo enquanto arte, pensamento, poetação, ato, exigindo, por isso, a INSISTÊNCIA DO SER-AÍ, que rejeita toda aparência de imediatidade do mero re-presentar. (tr. Casanova; GA65: 136)
O seer se essencia como acontecimento apropriador. Essa não é nenhuma proposição, mais o silenciamento inconcebível da essência, que só se abre para a completa realização histórica do pensar inicial. Somente a partir da verdade do seer emerge historicamente o ente, e a verdade do seer é abrigada na INSISTÊNCIA DO SER-AÍ. Por isto, “o ser”, por mais genérico que o nome possa soar, nunca pode se tornar o comum. E, contudo, ele se essencia, lá onde e quando ele se essencia, de maneira mais próxima e mais íntima do que qualquer ente. Aqui, a partir do ser-aí, é pensada a completa alteridade da ligação com o seer: ela é levada a termo; e isso acontece no tempo-espaço que emerge do arrebatamento extasiante e fascinante da própria verdade. O próprio tempo-espaço é uma região contenciosa querelante. No primeiro início, a partir da tomada de assalto imediata sobre o ente enquanto tal (physis, idea, ousia), o que se tornou concebível disso, se tornando normativo para toda a interpretação do ente, foi apenas a presentação. O tempo, nesse caso, foi concebido como presente e o espaço, isto é, o lugar, como aqui e lá, no interior da presentidade e pertencente a ela. Em verdade, porém, o espaço não possui nenhuma presença, assim como nenhuma ausência. Espacialização temporalizante – temporalização espacializante como a região mais próxima da junção fugidia para a verdade do seer, mas nenhuma queda nos conceitos comuns formais de espaço e tempo (!), senão retomada da contenda, mundo e terra – acontecimento apropriador. (tr. Casanova; GA65: 139)
Pertence ao aí como o seu extremo aquele velamento em seu mais próprio aberto, o ausente, ele tem como sua constante possibilidade o ser-ausente; o homem conhece isso nas diversas figuras da morte. Onde, porém, o ser-aí deve ser pela primeira vez concebido, a morte precisa ser determinada como a possibilidade extrema do aí. Caso se fale aqui de “fim” e caso se delimite com toda agudeza todo e qualquer tipo de presença à vista, então “fim” nunca pode ter em vista aqui a mera interrupção e o mero desaparecimento de algo presente à vista. Se tempo, precisamente como temporalidade, é arrebatamento extasiante, então “fim” significa aqui um não e algo diverso desse arrebatamento extasiante, um completo tresloucamento do aí enquanto tal no “ausente”. E ausente não significa, por sua vez, o “que foi embora” característico do mero desparecimento de algo que se encontrava antes presente à vista, mas aponta para o completamente outro do aí, completamente velado para nós, mas pertencente nesse velamento essencialmente ao aí e subsistente de maneira concomitante na INSISTÊNCIA DO SER-AÍ. Como o que há de mais extremo no aí, a morte é ao mesmo tempo o mais íntimo de sua transformação possível completa. E nisso reside ao mesmo tempo a indicação para a mais profunda essência do nada. Só o entendimento comum, que está conectado com o ente presente à vista como o unicamente ente, é que pensa também o nada de modo vulgar. Ele não tem a menor ideia da ligação íntima entre o ausente e o tresloucamento de todo ente em seu pertencimento ao aí. O que se encontra aqui como o velamento mais próprio em meio ao aí, a ligação alternante do aí com o caminho voltado para ele, é o reflexo da viragem na essência do próprio ser. Quanto mais originariamente o ser é experimentado em sua verdade, tanto mais profundo é o nada como o abismo à margem do fundamento. Com certeza, é confortável explicar o que foi dito sobre a morte a partir das representações cotidianas não colocadas à prova sobre “fim” e “nada”, ao invés de, ao contrário, aprender a pressentir como é que, com a vinculação avalizada de acordo com o arrebatamento extasiante da morte no aí, a essência de “fim” e de “nada” precisa se modificar. (tr. Casanova; GA65: 202)
O encobrir-se atravessa de maneira soberana a clareira, e é só se isso acontece, só se o querelante impera inteiramente em sua intimidade sobre o “aí”, que pode ter sucesso o arrancar do âmbito indeterminado e não concebido de modo algum enquanto tal do re-presentar e do vivenciar, tentando, então, a INSISTÊNCIA DO SER-AÍ. (tr. Casanova; GA65: 225)
O autêntico não é apenas o que é pertinente e o que é próprio, ou seja, o que corresponde a algo que já existe, mas, ao mesmo tempo, a conformidade no erigir da medida, autêntico no desdobramento, fiel à origem, mantendo a originariedade. Mas o que significa aqui “originariedade”, o que é determinado com ela? O homem, o ser<ser humano! (INSISTÊNCIA DO SER-AÍ!) (tr. Casanova; GA65: 235)
Tal deixar viger da abdicação a destaca essencialmente de toda e qualquer mera negação e de todo e qualquer mero negado. Abdicação é um modo de estar originário: sem apoio no desprotegido (a INSISTÊNCIA DO SER-AÍ). Esse modo de ficar mantém a posição da possibilidade; não de uma possibilidade qualquer e não “da” possibilidade em geral, mas da sua essência. Isso, porém, é o próprio acontecimento apropriador como a faculdade que se subtrai ao extremo para o que há de mais único do acontecimento da apropriação. Tal retração envia a mais aguda tempestade contra a abdicação e doa a ela a proximidade do a-bismo e, assim, a abertura do fosso do seer. Isso naturalmente se mostra como a distinção do ser-aí de se “encontrar” através do desprotegido e do sem apoio descendo até o a-bismo e ultrapassando aí os deuses. (tr. Casanova; GA65: 271)