Humanist
E porque se está de há muito habituado a ver o mundo grego através de uma interpretação humanista moderna que continua a estar-nos vedado reflectir sobre o ser que se abriu à antiguidade grega, deixando-lhe o que tem de próprio e de estranho. (GA5BD:127)
Erasmo legou-nos uma sentença que é dita para caracterizar a arte do pintor Albert Dürer. A sentença expõe uma ideia que cresceu manifestamente no diálogo pessoal do erudito com o artista. Essa sentença nos diz: ex situ rei unius, non unam speciem sese oculis intuentium offerentem exprimit; ao mostrar uma coisa a partir de uma situação qualquer dada, ele – o pintor Dürer – não traz à aparência uma única visão singular. Ao contrário – é assim que precisamos complementar ao mostrar o singular como esse algo único em sua unicidade, ele torna visível o ser mesmo: no próprio coelho, o ser coelho; no próprio animal, a animalidade. Erasmo fala, aqui, explicitamente contra Platão. Temos razões para assumir que o humanista Erasmo conhecia esse diálogo e sua posição sobre a arte. O fato de Erasmo e Dürer poderem falar dessa maneira pressupõe que uma mudança da compreensão de ser esteja em curso. (GA6MAC:151)
Todo e qualquer humanismo funda-se em uma metafísica ou então ele próprio se coloca como fundamento para uma tal metafísica. Toda e qualquer determinação da essência do homem que já pressupõe a interpretação do ente sem questionar a verdade do ser, quer o saiba ou não, é metafísica. É por isto que, na perspectiva do modo como se determina a essência do homem, aparece o que é característico de toda metafísica, qual seja, que é “humanista”. De acordo com isto, todo e qualquer humanismo continua sendo metafísico. Na determinação da humanidade do homem, o humanismo não só não questiona a relação do ser com a essência do homem, como impede inclusive essa pergunta, uma vez que, com base em sua proveniência a partir da metafísica, ele não a conhece e muito menos a compreende. Ao contrário, a necessidade e o modo próprio à questão acerca da verdade do ser, esquecida na e pela metafísica, só pode vir à luz se, em meio ao predomínio da metafísica, for colocada a questão: “O que é metafísica?” De imediato, porém, toda questão que pergunta pelo “ser”, inclusive a que pergunta pela verdade do ser, deve ser introduzida como uma pergunta “metafísica”. (GA9GS:334-335; CartaH)