fuga

Flucht

O ente que possui o caráter da presença (Dasein) é o seu pre (das Da), no sentido de dispor-se implícita ou explicitamente em seu estar-lançado. Na disposição, a presença (Dasein) já se colocou sempre diante de si mesma e já sempre se encontrou, não como percepção, mas como um dispor-se numa afinação de humor. Enquanto ente entregue à responsabilidade de seu ser, ela também se entrega à responsabilidade de já se ter sempre encontrado – encontro que não é tanto fruto de uma procura direta mas de uma FUGA. A afinação do humor não realiza uma abertura no sentido de observar o estar-lançado e sim de enviar-se e desviar-se. Na maior parte das vezes, ele faz pouco caso do caráter pesado da presença (Dasein) que nele se revela e, muito menos ainda, quando se alivia de um humor. Esse desvio é o que é, no modo da disposição. STMSC: §29

No propósito de alcançar o ser da totalidade do todo estrutural, partiremos das últimas análises concretas da decadência. Imergir no impessoal junto ao “mundo” das ocupações revela algo como uma FUGA de si mesmo da presença (Dasein), e isso enquanto seu próprio poder-ser propriamente. Esse fenômeno da FUGA de si mesmo e de sua propriedade parece ser, na verdade, o solo fenomenal menos indicado para se investigar o que haverá de seguir. Pois nessa FUGA, a presença (Dasein) não se coloca diante de si mesma. De acordo com a tendência característica da decadência, o desvio conduz para longe da presença (Dasein). Não obstante, em tais fenômenos, deve-se evitar confundir os caracteres ôntico-existenciários com a interpretação ontológico-existencial. Deve-se também evitar passar por cima dos fundamentos fenomenais positivos presentes naqueles caracteres e importantes para essa investigação. STMSC: §40

Do ponto de vista existenciário, sem dúvida, a propriedade do ser-si-mesmo acha-se na decadência, obstruído e fechado. Esse fechamento, no entanto, é apenas privação de uma abertura que se revela fenomenalmente dado que a FUGA da presença (Dasein) é FUGA de si mesma. É justamente daquilo de que foge que a presença (Dasein) corre “atrás”. Somente na medida em que, através de sua abertura constitutiva, a presença (Dasein) se coloca essencialmente diante de si mesma é que ela pode fugir de si mesma. Decerto, tanto no desviar-se como no aviar-se, próprios da decadência, não se apreende aquilo de que se foge e nem se faz a sua experiência. No entanto, no desvio de si mesma, descortina-se o “pre (das Da)” da presença (Dasein). Em razão de seu caráter de abertura, o desvio ôntico-existenciário propicia fenomenalmente a possibilidade de se apreender aquilo de que se foge como tal, de forma ontológico-existencial. Em meio a esse movimento ôntico de “para longe de”, inerente ao desvio, pode-se compreender e conceituar aquilo de que se foge, “aviando-se” para uma interpretação fenomenológica. STMSC: §40

Chamamos de “FUGA” de si mesmo o decair da presença (Dasein) no impessoal e no “mundo” das ocupações. Entretanto, nem todo retirar-se de…, nem todo desviar-se de… é necessariamente uma FUGA. Caráter de FUGA tem apenas o retirar-se, baseado no medo daquilo que desencadeia o medo, isto é, do ameaçador. A interpretação do medo como disposição mostrou: aquilo de que se tem medo é sempre um ente intramundano que, advindo de determinada região, torna-se, de maneira ameaçadora, cada vez mais próximo. Na decadência, a presença (Dasein) se desvia de si mesma. Aquilo de que se retira deve possuir o caráter de ameaça; o que, porém, ameaça é um ente que tem o modo de ser de um ente que se retira, ou seja, é a própria presença (Dasein). Em consequência, aquilo de que se retira não pode ser apreendido como “amedrontador”, porque sempre vem ao encontro como ente intramundano. A única ameaça que pode tornar-se “amedrontador” e que se descobre no medo provém sempre de algo intramundano. STMSC: §40

O desvio da decadência não é, por conseguinte, um fugir que se fundasse num medo de algo intramundano. Nesse sentido, o desviar-se não possuiria o caráter de FUGA, sobretudo quando se aviasse para o ente intramundano no sentido de nele empenhar-se. Ao contrário, o desvio da decadência funda-se na angústia que, por sua vez, torna possível o medo. STMSC: §40

Para se compreender o que se quer dizer com FUGA decadente de si mesma, inerente à presença (Dasein), é preciso lembrar que a constituição fundamental da presença (Dasein) é ser-no-mundo. Aquilo com que a angústia se angustia é o ser-no-mundo como tal. Como se distingue fenomenalmente o com quê a angústia se angustia daquilo que o medo teme? O com quê da angústia não é, de modo algum, um ente intramundano. Por isso, com ele não se pode estabelecer nenhuma conjuntura essencial. A ameaça não possui o caráter de algo prejudicial que diria respeito ao ameaçado na perspectiva determinada de um específico poder-ser fático. O com quê da angústia é inteiramente indeterminado. Essa indeterminação não apenas deixa faticamente indefinido que ente intramundano “ameaça” como também diz que o ente intramundano é “irrelevante”. Nada do que é simplesmente dado ou que se acha à mão no interior do mundo serve para a angústia com ele angustiar-se. A totalidade conjuntural do manual e do ser simplesmente dado que se descobre no mundo não tem nenhuma importância, ela se perde em si. O mundo possui o caráter de total insignificância. Na angústia, não se dá o encontro disso ou daquilo com o qual se pudesse estabelecer uma conjuntura ameaçadora. STMSC: §40

Doravante, torna-se fenomenalmente visível do que foge a decadência como FUGA. Não foge de um ente intramundano mas justamente para esse ente, a fim de que a ocupação perdida no impessoal possa deter-se na familiaridade tranquila. A FUGA decadente para o sentir-se em casa do que é público foge de não sentir-se em casa, isto é, da estranheza inerente à presença (Dasein) enquanto ser-no-mundo lançado para si mesmo em seu ser. Essa estranheza persegue constantemente a presença (Dasein) e ameaça, mesmo que implicitamente, com a perda cotidiana no impessoal. Essa ameaça pode, faticamente, acompanhar uma certeza total e uma não necessidade das ocupações cotidianas. A angústia pode surgir nas situações mais inofensivas. Também não necessita da escuridão onde alguma coisa comum facilmente se torna estranha. Na escuridão não há “nada” para se ver especialmente, embora o mundo esteja ainda e de maneira mais importuna “por aí”. STMSC: §40

Ao interpretarmos, de modo ontológico-existencial, a estranheza da presença (Dasein) como ameaça que a própria presença (Dasein) experimenta em relação a si mesma, não se afirma, contudo, que na angústia fática a estranheza já se compreenda nesse sentido. O modo cotidiano em que a presença (Dasein) compreende a estranheza é o desvio para a decadência que esconde o não sentir-se em casa. Do ponto de vista fenomenal, porém, a cotidianidade dessa FUGA mostra que, enquanto disposição fundamental, a angústia pertence à constituição essencial da presença (Dasein) como ser-no-mundo. E que, como existencial, jamais é algo simplesmente dado e sim um modo próprio da presença (Dasein) fática, ou seja, é uma disposição. O ser-no-mundo tranquilizado e familiarizado é um modo da estranheza da presença (Dasein) e não o a contrário. O não sentir-se em casa {CH: (desapropriação)} deve ser compreendido, existencial e ontologicamente, como o fenômeno mais originário. STMSC: §40

E, por conseguinte, o existir fático da presença (Dasein) não está apenas lançado indiferentemente num poder-ser-no-mundo, mas já está sempre empenhado no mundo das ocupações. Nesse ser junto a…, que constitui a decadência, anuncia-se, explicitamente ou não, compreendida ou não, uma FUGA da estranheza que, na maior parte das vezes, permanece encoberta pela angústia latente, uma vez que o caráter público do impessoal reprime toda e qualquer não familiaridade. Na decadência, o ser junto ao manual intramundano da ocupação acha-se essencialmente incluído no anteceder-a-si-mesma-no-já-ser-em-um-mundo. STMSC: §41

É no anteceder-a-si-mesma, enquanto ser para o poder-ser mais próprio, que subsiste a condição ontológico-existencial de possibilidade de ser livre para as possibilidades propriamente existenciárias. O poder-ser é aquilo em virtude de que a presença (Dasein) é sempre tal como ela é faticamente. Na medida, porém, em que este ser para o próprio poder-ser acha-se determinado pela liberdade, a presença (Dasein) também pode relacionar-se involuntariamente com as suas possibilidades, ela pode ser imprópria. Faticamente, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, é nessa modalidade que ela se encontra. O próprio em virtude de não é apreendido, e o projeto de poder-ser ela mesma fica entregue ao talante do impessoal. Assim, no anteceder-a-si-mesma, o “si” indica sempre o si-mesmo, no sentido do impessoalmente-si-mesmo. Mesmo na impropriedade, a presença (Dasein) permanece essencialmente um anteceder-a-si-mesma, da mesma forma que a FUGA de si mesma na decadência ainda apresenta a constituição de ser na qual está em jogo o seu ser. STMSC: §41

O ser-para-o-fim não se origina primeiro de uma postura que, às vezes, acontece, mas pertence, de modo essencial, ao estar-lançado da presença (Dasein), que na disposição (do humor) se desvela dessa ou daquela maneira. O “saber” ou “não-saber” que, de fato, sempre vigora em cada presença (Dasein), a respeito do ser-para-o-fim mais próprio, é apenas a expressão da possibilidade existenciária de se manter nesse modo de ser. Que, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, muitos de fato não sabem da morte, isso não pode ser aduzido como prova de que o ser-para-a-morte não pertença “de maneira geral” à presença (Dasein). Isso apenas mostra que, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, a presença (Dasein) encobre para si mesma o ser-para-a-morte mais próprio em dele fugindo. É existindo que a presença (Dasein) morre de fato, embora, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, o faça no modo da decadência. Pois existir faticamente não é somente um poder-ser-lançado no mundo, genérico e indiferente, já sendo também um empenhar-se no “mundo” das ocupações. Nesse decadente ser-junto-a, anuncia-se a FUGA da estranheza, isto significa, do ser-para-a-morte mais próprio. Existência, facticidade, decadência caracterizam o ser-para-o-fim, constituindo, pois, o conceito existencial da morte. No tocante à sua possibilidade ontológica, o morrer funda-se na cura {CH: mas a cura vige a partir da verdade do ser}. STMSC: §50

Todavia, ao mesmo tempo que o impessoal tranquiliza a presença (Dasein), desviando-a de sua morte, ele mantém seu direito e prestígio, regulando tacitamente o modo de comportamento frente à morte. No âmbito público, “pensar na morte” já é considerado um medo covarde, uma insegurança da presença (Dasein) e uma FUGA sinistra do mundo. O impessoal não permite a coragem de se assumir a angústia com a morte. O predomínio da interpretação pública do impessoal também já decidiu acerca da disposição que deve determinar a atitude frente à morte. Angustiando-se com a morte, a presença (Dasein) coloca-se diante da possibilidade insuperável, a cuja responsabilidade ela está entregue. O impessoal ocupa-se em reverter essa angústia num medo frente a um acontecimento que advém. Ademais, considera-se a angústia, que no medo se torna ambígua, uma fraqueza que a presença (Dasein) segura de si mesma deve desconhecer. Segundo esse decreto mudo do impessoal, o que “cabe” é a tranquilidade indiferente frente ao “fato” de que se morre. A elaboração dessa indiferença “superior” aliena a presença (Dasein) de seu poder-ser mais próprio e irremissível. STMSC: §51

Tentação, tranquilização e alienação caracterizam, porém, o modo de ser da decadência. Decadente, o ser-para-a-morte cotidiano é uma insistente FUGA dele mesmo. O ser-para-o-fim possui o modo de um escape dele mesmo, que desvirtua, vela e compreende impropriamente. Que a própria presença (Dasein) sempre morre de fato, ou seja, que é num ser para o fim, esse fato fica velado porque transforma-se a morte num caso da morte dos outros, que ocorre todos os dias e que, de todo modo, nos assegura com mais evidência que “ainda se está vivo”. com a FUGA decadente da morte, porém, a cotidianidade da presença (Dasein) também atesta que o próprio impessoal, mesmo quando não está explicitamente “pensando na morte”, já está sempre se determinando como ser-para-a-morte. Também na cotidianidade mediana, o que está em jogo na presença (Dasein) é este poder-se mais próprio, irremissível e insuperável, conquanto seja apenas no modo da ocupação de uma indiferença imperturbável frente à possibilidade mais extrema de sua existência. STMSC: §51

A presença (Dasein) constitui-se pela abertura, isto é, por uma compreensão determinada por disposições. Ser-para-a-morte em sentido próprio não pode escapar da possibilidade mais própria e irremissível e, nessa FUGA, encobri-la e alterar o seu sentido em favor da compreensão do impessoal. O projeto existencial de um ser-para-a-morte em sentido próprio deve, portanto, elaborar os momentos desse ser que o constituem como compreensão da morte, no sentido de um ser para a possibilidade caracterizada, que nem foge e nem encobre. STMSC: §53

Que a presença (Dasein) seja faticamente, esse que ela é já está aberto para a presença (Dasein), não obstante o seu porquê possa manter-se velado. O estar-lançado desse ente pertence à abertura do “pre (das Da)” e se desvela constantemente em cada disposição. Este leva a presença (Dasein), de forma mais ou menos explícita e própria, para diante desse “que” (ela é) enquanto o ente que tem de ser o que é e pode ser”. Na maior parte das vezes, porém, o humor fecha o estar-lançado. A presença (Dasein) foge desse estar-lançado para a facilidade da liberdade pretendida pelo impessoalmente-si-mesmo. Caracterizou-se essa FUGA como FUGA da estranheza que, no fundo, determina a singularidade do ser-no-mundo. A estranheza desvela-se propriamente na disposição fundamental da angústia e, enquanto abertura mais elementar da presença (Dasein) lançada, coloca o seu ser-no-mundo diante do nada do mundo com o qual ela se angustia na angústia por seu poder-ser mais próprio. E se, dispondo no fundo de sua estranheza, a presença (Dasein) fosse quem apela o apelo da consciência? STMSC: §57

Na interpretação do quem apela enquanto poder – que mundanamente é “ninguém” – parece subsistir, no entanto, o reconhecimento despreconceituoso de um “dado objetivo”. Olhando-se corretamente, porém, essa interpretação não passa de uma FUGA da consciência, de um desvio da presença (Dasein) com vistas a escapar do muro tênue que separa o impessoal da estranheza de seu ser. Esta interpretação se oferece como reconhecimento do apelo no sentido de “voz universalmente obrigatória”, que não fala “apenas de modo subjetivo”. Mais ainda, essa consciência “universal” cresce e se consolida como “consciência de mundo” que, segundo seu caráter fenomenal, é um “se” indeterminado e um “ninguém”, ou seja, aquilo que no “sujeito” singular fala como indeterminado. STMSC: §57

A curiosidade é uma tendência ontológica privilegiada da presença (Dasein), segundo a qual ela se ocupa de um poder-ver. Tanto o “ver” quanto o conceito de visão não se restringem à percepção propiciada pelos “olhos do corpo”. Em sentido amplo, a percepção deixa vir ao encontro “corporalmente” em si mesmos o que está à mão e o ser simplesmente dado, no tocante ao seu aspecto. Esse deixar vir ao encontro funda-se numa atualidade. A atualidade fornece o horizonte ekstático no qual o ente pode ser corporalmente vigente. Entretanto, a curiosidade não atualiza o ser simplesmente dado a fim de, nele demorando-se, compreendê-lo. Ela busca ver apenas para ver e ter visto. Enquanto esta atualização presa em si mesma ao ser simplesmente dado, a curiosidade está numa unidade ekstática com um porvir e um vigor de ter sido correspondentes. A avidez do novo move-se, sem dúvida, em direção ao ainda-não-visto mas de tal maneira que a atualização tenta escapar do aguardar. A curiosidade é toda ela impropriamente porvindoura e isto a tal ponto que ela não aguarda uma possibilidade mas, em sua avidez, só cobiça a possibilidade como algo real. A curiosidade constitui-se de uma atualização que não se sustenta e, apenas atualizando, procura constantemente fugir do aguardar em que a atualização se “mantém” e se resguarda, embora insustentada. A atualidade “surge” da correspondente atualização que lhe pertence, no sentido mencionado de FUGA. Mas a atualização em que “surge” a curiosidade se entrega tão pouco à “coisa” que, ao conquistar uma visão, já deixa de ver para ver a próxima. Do ponto de vista ontológico, o que possibilita o não demorar-se, característico da curiosidade, é a atualização que constantemente “surge” no aguardar a uma possibilidade apreendida e determinada. A atualização não “surge” do aguardar no sentido de que ela estaria onticamente desligada do aguardar para a ele se abandonar. O “surgir” é uma modificação ekstática do aguardar, de tal maneira que o aguardar ressurge da atualização. O aguardar abdica, por assim dizer, de si mesmo em não mais deixando que venham a si possibilidades impróprias da ocupação a partir daquilo de que se ocupa, à exceção daquelas que se oferecem para uma atualização que não se sustenta. A modificação ekstática do aguardar mediante a atualização que surge numa atualização que ressurge é a condição temporal e existencial da possibilidade de dispersão. STMSC: §68

Através das fases de suas realidades momentâneas, a presença (Dasein) não preenche um trajeto e nem um trecho “da vida” já simplesmente dado. Ao contrário, ela se estende a si mesma de tal maneira que seu próprio ser já se constitui como ex-tensão. No ser da presença (Dasein), já subsiste um “entre” que remete a nascimento e morte. De forma nenhuma, a presença (Dasein) só “é” real num ponto do tempo, de maneira que, além disso, estaria “cercada” pela não realidade de seu nascimento e de sua morte. Compreendido existencialmente, o nascimento não é e nunca pode ser um passado, no sentido do que não é mais simplesmente dado. Da mesma maneira, a morte não tem o modo de ser de algo que ainda simplesmente não se deu mas que está pendente e em advento. De fato, a presença (Dasein) só existe nascente e é nascente que ela já morre, no sentido de ser-para-a-morte. Estes dois “fins” e o seu “entre” são apenas na medida em que a presença (Dasein) existe faticamente, e apenas são na única maneira possível, isto é, com base no ser da presença (Dasein) enquanto cura. Na unidade do estar-lançado e do ser-para-a-morte, em sua FUGA e antecipação, é que nascimento e morte formam um “nexo” dotado do caráter de presença (Dasein). Enquanto cura, a presença (Dasein) é o “entre”. STMSC: §72

A questão não pode ser: através de que a presença (Dasein) adquire a unidade do nexo para um encadeamento posterior da sequência de “vivências”? A questão é: Qual o modo de ser de si mesma em que a presença (Dasein) se perde de tal maneira que precise, posteriormente, se recuperar da dispersão e se pensar no sentido da reunião de uma unidade abrangente? Perder-se no impessoal e no que pertence à história do mundo foi, anteriormente, desvelado como FUGA da morte. Essa FUGA de… revela o ser-para-a-morte como uma determinação fundamental da cura. A decisão antecipadora coloca esse ser-para-a-morte na existência própria. STMSC: §75

Onde, porém, se funda esse nivelamento do tempo do mundo e encobrimento da temporalidade? No próprio ser da presença (Dasein) que, à guisa de preparação, interpretamos como cura. Lançada e decadente, a presença (Dasein) está, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, perdida nas ocupações. Nessa perdição anuncia-se, contudo, a FUGA encobridora da presença (Dasein) de sua existência própria, já caracterizada como decisão antecipadora. Na FUGA das ocupações reside a FUGA da morte, ou seja, o desviar o olhar do fim do ser-no-mundo. Esse desviar o olhar de… é, em sisi mesmo, um modo de ser para o fim que, ekstaticamente, é porvir. Enquanto um desviar o olhar da finitude, a temporalidade imprópria da presença (Dasein) decadente e cotidiana deve desconhecer o porvir próprio e, assim, também a temporalidade em geral. É justamente quando o impessoal dirige a compreensão vulgar da presença (Dasein) que se consolida a “representação” da “infinitude” do tempo público, que se esquece de si. O impessoal nunca morre porque, sendo a morte sempre minha e apenas compreendida existenciariamente em sentido próprio na decisão antecipadora, o impessoal nunca pode morrer. Nunca morrendo e compreendendo equivocadamente o ser-para-o-fim, o impessoal dá uma interpretação característica à FUGA da morte. Até o fim, ele “sempre ainda tem tempo”. Aqui se anuncia um ter tempo, no sentido de poder-perder: “agora ainda isso, então isso, e só mais isso e então…” O que, aqui, se compreende não é a finitude do tempo. Ao contrário, a ocupação empenha-se em agarrar o máximo possível do tempo que ainda vem e “continua passando”. Publicamente, o tempo é algo que cada um sempre toma e pode tomar. A sequência nivelada dos agora permanece inteiramente desconhecida, no que respeita à sua proveniência da temporalidade da presença (Dasein) singular, na convivência cotidiana. Como isso poderia afetar “o tempo”, ao menos em seu curso, se já não existe um homem simplesmente dado “no tempo”? O tempo continua a passar da mesma forma que ele já “era” quando um homem “entrou para a vida”. Impessoalmente, apenas se conhece o tempo público que nivela e que pertence a todo mundo, isto é, a ninguém. STMSC: §81