Historie, historisch, Historizität
Essa historicidade elementar da presença (Dasein) pode permanecer escondida para ela mesma, mas pode também ser descoberta e tornar-se objeto de um cultivo especial. A presença (Dasein) pode descobrir a tradição, conservá-la e investigá-la explicitamente. Pode-se até considerar uma tarefa autônoma descobrir a tradição e explicar o que a tradição “lega” e como ela o faz. Nesse caso, a presença (Dasein) se assume no modo de ser do questionamento e da pesquisa dos fatos historiográficos. A história fatual (Historie) ou, mais precisamente, a fatualidade historiográfica só é possível como modo de ser da presença (Dasein) que questiona porque, no fundamento de seu ser, a presença (Dasein) se determina e constitui pela historicidade. Se a historicidade fica escondida para a presença (Dasein) e enquanto ela assim permanecer, também se lhe nega a possibilidade de questionar e descobrir fatualmente a história. A falta de história fatual (Historie) não é uma prova contra a historicidade da presença (Dasein), mas uma prova a seu favor, enquanto modo deficiente dessa constituição de ser. Uma época só pode ser destituída de FATOS HISTÓRICOS por ser “histórica”. STMSC: §6
Por outro lado, se a presença (Dasein) tiver apreendido sua possibilidade de não só tornar transparente para si mesma sua existência, mas também de questionar o sentido da existencialidade em si mesma, isto é, de investigar preliminarmente o sentido de ser em geral e, nessa investigação, alertar-se para a historicidade essencial da presença (Dasein), então será inevitável perceber que a questão do ser, apontada em sua necessidade ôntico-ontológica, caracteriza-se em si mesma pela historicidade. É, portanto a partir do sentido de ser mais próprio que caracteriza o próprio questionar como questionamento histórico que a elaboração da questão do ser deve encontrar a orientação para indagar acerca de sua própria história, isto é, de determinar-se por FATOS HISTÓRICOS. Pois, somente apropriando-se positivamente do passado é que ela pode entrar na posse integral das possibilidades mais próprias de seu questionamento. Segundo seu modo próprio de realização, a saber, a explicação preliminar da presença (Dasein) em sua temporalidade e historicidade, a questão sobre o sentido do ser é levada, a partir de si mesma, a se compreender como questão referente a FATOS HISTÓRICOS. STMSC: §6
A questão sobre o sentido de ser é a mais universal e a mais vazia; entretanto, ela abriga igualmente a possibilidade de sua mais aguda singularização em cada presença (Dasein) {CH: propriamente: realização da insistência no pre (das Da)}. É necessário um fio condutor concreto a fim de se obter o conceito fundamental de “ser” e de se delinear a conceituação ontológica por ele exigida, bem como suas derivações necessárias. A universalidade do conceito de ser não contradiz a “especialidade” da investigação, qual seja, a de encaminhar-se, seguindo a interpretação especial de um ente determinado, a presença (Dasein). É na presença (Dasein) que se há de encontrar o horizonte para a compreensão e possível interpretação do ser. Em si mesma, porém, a presença (Dasein) é “histórica”, de maneira que o esclarecimento ontológico próprio deste ente torna-se sempre e necessariamente uma interpretação “referida a FATOS HISTÓRICOS”. STMSC: §8