VIDE ek-sistência
Chamo ec-sistência do homem o estar na clareira do Ser. Esse modo de ser só é próprio do homem. Assim entendida, a ec-sistência não é apenas o fundamento de possibilidade da razão, ratio. É também onde a Essência do homem con-serva a proveniência de sua determinação.
Só se pode dizer ec-sistência da Essência do homem, isto é, do modo humano de “ser”, pois somente o homem, até onde alcança nossa experiência, foi introduzido no destino da ec-sistência. Por isso também a ec-sistência nunca pode ser pensada como uma espécie particular entre outras espécies de seres vivos, suposto, naturalmente, que foi destinado ao homem pensar a Essência de seu ser e não, apenas, fazer relatórios sobre a natureza e a história de sua constituição e de suas atividades. Assim, na Essência da ec-sistência, se funda também o que, em comparação com o “animal”, se atribui ao homem, como animalitas. O corpo do homem é algo Essencialmente diferente de um organismo animal (v. animal racional).
(…)
Pensada de maneira ec-stática, a ec-sistência não coincide com existentia nem quanto ao conteúdo nem quanto à forma. Em seu conteúdo, ec-sistência significa exportar (hinaus-stehen) a Verdade do Ser. Existentia (existente) diz, ao contrário, atualitas, realidade, distinguindo-se da simples possibilidade concebida como ideia. Ec-sistência evoca a determinação do que o homem é no destino do Verdade do Ser. Existência permanece o nome para a realização do que uma coisa é, enquanto aparece em sua ideia. A frase “o homem ec-siste” não responde à pergunta, se. o homem é ou não real. Ela responde à pergunta pela “Essência” do homem. Essa pergunta costumamos fazê-la de modo igualmente indevido, tanto perguntando, o que é o homem, como perguntando, quem é o homem. Pois no “quem?” ou no “O que?” já buscamos uma pessoa ou um objeto. Ora, o pessoal não erra nem, ao mesmo tempo, obstrui menos a essencialização (das Wessende) da ec-sistência na História do Ser (seinsgeschichtlich) do que o objetivo. Por isso na frase citada de Ser e Tempo (p. 52), se escreveu, de propósito, a palavra “Essência” entre aspas. Com isso se quer indicar que não se determina a “Essência” nem a partir do esse essentiae nem a partir do esse existentiae mas a partir do ec-stático do Dasein. Enquanto ec-sistente, o homem suporta o Da-sein, assumindo na “cura” o lugar (Da), como a clareira do Ser. O Da-sein mesmo, porém, se essencializa num Lançamento”. Ele se essencializa no lance do Ser, que, destinando-se, instaura o destino.
O cúmulo do extravio (Verführung) seria pretender-se explicar a frase sobre a Essência ec-sistente do homem, como uma transposição secularizada, para o homem, de uma ideia sobre Deus da teologia cristã (Deus est suam esse). Pois a ec-sistência nem é a realização de uma essência nem produz e põe por si mesma o essencial (das Essentielle). (CartaH)
Suposto que, no porvir, o homem possa pensar a Verdade do Ser, então ele pensará a partir da ec-sistência. Pois é ec-sistindo que ele está no destino do Ser. A ec-sistência do homem é, como ec-sistência, Histórica e não somente ou até mesmo exclusivamente, porque, no curso do tempo, acontece com o homem e com as coisas humanas toda sorte de ocorrências. Porque se trata de pensar a ec-sistência do Da-sein, por isso importa tanto ao pensamento de Ser e Tempo, que a Historicidade do Dasein seja experimentada. (CartaH)
Em Ser e Tempo se diz (p. 38) que toda questão da filosofia “repercute na existência”. Mas a existência, de que se fala, não é a realidade do ego cogito. Como também não é apenas a realidade dos sujeitos, que, atuando em conjunto uns para os outros, chegam a si mesmos. Diferente de toda existentia e existente, a ec-sistência é o morar ec-stático na proximidade do Ser. É a vigília, isto é, o cuidado com (Sorge für) o Ser. (CartaH)