Porque a cibernética, sem que possa sabê-lo ou pensá-lo, está submetida a essa transformação da vigência do vigente, ela só deve ser mencionada como uma característica do fim da filosofia. Essa característica consiste em que, com a encomenda (dis-posicionalidade) do vigente, alcança-se a possibilidade derradeira e extrema na transformação da vigência. Com isso, os diversos âmbitos do vigente tornam-se encomendáveis, dis-poníveis para a representação. As disciplinas do pensamento voltadas para esses âmbitos podem voltar-se independentemente para a sua elaboração. A dissolução da filosofia desdobra-se numa tarefa encomendável, cuja unicidade se dilui e separa mediante o surgimento da cibernética.
Que a filosofia ingresse no seu fim, isso é um processo legítimo. Ele corresponde à lei que governa o seu começo, à medida que segue a indicação de pensar a vigência do vigente de acordo com o modo como a vigência faz apelo ao pensamento sem com isso ser pensada como tal.
A transformação da vigência do vigente não consiste na mudança das opiniões dos filósofos. Os filósofos são os pensadores que são ao tornarem-se capazes de corresponder à reivindicação transformada da vigência. Com essa correspondência, nomeia-se sem dúvida uma referência pertencente à periferia do que é digno de questão e ao qual a questão da determinação da coisa (causa) do pensamento vê-se remetida.
Essa mesma referência aparece quando chegamos a perceber que, na discussão realizada até agora sobre a vigência enquanto encomenda (dis-posicionalidade), ela se mantinha intocada. Isso significa: em que medida a encomenda (dis-posicionalidade) constitui a última fase na história da transformação da vigência? Nenhum homem pode decidir se ainda haverão de ocorrer outras transformações. Não sabemos nada sobre o futuro. Todavia, para determinar a encomenda (dis-posicionalidade) como a última fase possível na transformação histórica da vigência não é preciso nenhuma visão profética do futuro. A visão do presente já é suficiente quando ela, ao invés de descrever a situação mundial e a situação do homem, percebe e atenta para o modo da vigência do homem e das coisas numa unidade com a vigência do homem para as coisas. O que se mostra é: no domínio da encomenda (dis-posicionalidade) do vigente, nele mesmo, aparece o poder do dis-por explorador, à medida que dis-põe o próprio homem para o asseguramento de todo vigente colocando assim o homem sob a sua encomenda e dis-posicão. (Coisa do Pensamento)