condição de possibilidade

Algo é a “condição de possibilidade” de algo: p.ex., “A questão do ser pretende atingir uma condição a priori da possibilidade das ciências (…)” (SZ, 11). Heidegger também fala da possibilidade “interna”, em contraste com a possibilidade “externa”, por exemplo, física: “Até que ponto a possibilidade interna de uma coisa tal como o solo encontra-se na transcendência?” (ER, 100). A questão kantiana “Como x é possível?” possui duas aplicações: (a) Heidegger começa com uma concepção comum, p.ex., a verdade como a correção de uma proposição ou a ciência como um sistema de proposições, e argumenta que, neste sentido, verdade ou ciência não são possíveis a não ser que postulemos uma concepção mais profunda sobre elas, da qual se origina a concepção habitual (SZ, 153ss; GA27, 238). (b) Um fenômeno respeitável segundo Heidegger torna possível um outro: p.ex., a temporalidade é a “condição ontológica de possibilidade” do ser-no-mundo (SZ, 350). SZ passa de um fenômeno para a sua condição. “Nós não indagamos sobre o que precisa ser atual para que algo mais seja atualizado, mas sobre o que precisa ser possível para que algo mais seja possível” (GA27, 87). Posteriormente, Heidegger passa a desconfiar da expressão “condição de possibilidade”: rejeita (i) a visão kantiana e de modo geral metafísica de que o ser é a condição de possibilidade dos entes (GA65, 183/289), posição que precede a identificação do ser com “valor” (GA6I, 338/N4, 201), e (ii) o procedimento de passar dos entes ao ser, preferindo “captar a verdade do ser a partir de sua própria essência” (GA65, 250).