atenção

Se dirigimos a atenção de nosso olhar para as coisas, ou seja, se em meio ao enunciado sobre o giz dirigimos a atenção de nosso olhar para a coisa mesma, então podemos apreender nessa coisa a determinada propriedade de ela ser branca; nessa atenção do olhar (Aufmerken) para a coisa experimentamos ao mesmo tempo que essa coisa, que somente agora apreendemos expressamente, já era antes por si subsistente. Reside no caráter desse prestar atenção na coisa o fato de a coisa mesma nos dizer em certa medida: eu já estava aí, antes de tu me apreenderes. Nesse prestar atenção nas coisas não trazemos nada a elas nem — como diríamos — lhes contrabandeamos nada por meio do discurso, mas são elas, as coisas mesmas, que vêm ao nosso encontro dessa forma. O prestar atenção nas coisas, aparentemente uma atividade desenvolvida por nosso turno, um tornar aparente, ou, utilizando as palavras de Kant, uma espontaneidade (Spontaneität) aparente de nós mesmos, não é, contudo, segundo sua essência propriamente dita, senão justamente um deixar-vir-ao-encontro (Begegnen-lassen), uma passividade peculiar, uma receptividade peculiar. Em meio a esse deixar-vir-ao-encontro não há nem a “impressão” (Eindruck) de algo de fora nem um sair de dentro para fora a partir de nós mesmos; portanto, tampouco algum espaço interior; ele não é nem uma relação causal nem transcendência às avessas. Esse deixar-vir-ao-encontro é, em certa medida, espontaneidade, mas uma espontaneidade tal que possui intencionalmente o caráter do acolher (Hinnehmen), do aceitar, do receber. (tr. Casanova; GA27:74)


gr. phrontis como um princípio em Plotino, noesis 21; nous 18; hen 13 (FEPeters)


(in. Attention; fr. Attention; al. Aufmerksamkeit; it. Attenzioné).

Noção relativamente recente (séc. XVII), com a qual se entende em geral o ato pelo qual o espírito toma posse de forma clara e vivida de um dos seus possíveis objetos, ou a apresentação clara e vivida de um desses possíveis objetos ao espírito. A noção de atenção encontra-se em Descartes, que a entende como o ato pelo qual o espírito toma em consideração um único objeto durante algum tempo (Pass. de l’âme, I, § 43). Locke chama de “atenção” a atenção passiva com que o espírito é atraído por certas ideias, ao passo que chama de “reflexão” a atenção ativa pela qual ele escolhe certas ideias como objetos privilegiados (Ensaio, II, I, § 8). Diz ele: “Quando tomamos nota das ideias que se nos apresentam por si e elas são, por assim dizer, registradas na memória, trata-se da atenção” (ibid., II, 19, § 1). Leibniz, no entanto, dá sentido ativo à atenção.- “Damos atenção aos objetos que distinguimos e preferimos aos outros”. E como formas da atenção enumera a consideração, a contemplação, o estudo, a meditação (Nouv. ess., II, 19, § 1). Ela constitui a passagem das pequenas percepções à apercepção (ibid., pref.). A atenção conserva esse mesmo caráter ativo em Wolff (Psycbol. emp., § 237) e em Kant (Antr., I, § 3), que a define como “o esforço de tornar-se consciente das próprias representações”.

A partir da segunda metade do séc. XIX, com o surgimento da psicologia científica, a atenção, considerada como uma das condições da vida psíquica, é incluída no âmbito dessa ciência. Seu conceito continua sendo o mesmo que fora formulado pelos filósofos; os psicólogos distinguem a atenção espontânea, passiva ou involuntária, em que o objeto se impõe à consciência, e a atenção ativa, voluntária ou controlada, em que o sujeito escolhe o objeto da sua atenção. A psicologia contemporânea considera a atenção como adaptação ativa a uma situação, como orientação seletiva em face dos objetos a serem percebidos (cf., p. ex., D. O. Hebb, The Organization of Behaviour, 1949, p. 4). Com essa noção de atenção, que se ajusta ao esquema geral predominante nas ciências antropológicas, segundo o qual toda atividade do homem é a sua resposta a determinado complexo de estímulos (situações ou problemas), a atenção saiu do domínio da pura interioridade e foi reconhecida como uma forma de comportamento. (Abbagnano)


É a atitude psíquica endereçada a obter uma compreensão clara. No caso da atenção sensorial, dita atitude está ligada à correspondente adaptação dos órgãos dos sentidos. A atenção pode ser despertada passivamente pelo objeto que atua de surpresa sobre o sujeito ou mantida ativamente sob a direção da vontade humana, em ordem a alcançar uma compreensão intelectual mais penetrante de relações dadas ou supostas. A par da atenção atual voltada para seu objeto, existe a atenção, que podemos qualificar de potencial, ou seja, uma orientação habitual marginalmente consciente que com maior facilidade e rapidez faz entrar na zona central da atenção as determinadas espécies de objetos. Para suscitar e manter viva a atenção atual, requer-se além da importância do objeto e da ânsia de conhecer, certa elasticidade e vigor psico-somático. Apesar disso, a atenção não permanece durante muito tempo aplicada com igual tensão ao mesmo objeto, senão que sua intensidade apresenta oscilações rítmicas. No centro do campo da atenção concentrada só pode haver um conteúdo objetivo (podem lá estar vários objetos, mas só enquanto unidos num todo (consciência). Aliás, em igualdade de condições, a amplitude e rápida variabilidade da atenção, por um lado, e, por outro lado, a demasiado intensa concentração estão geralmente em razão inversa. Condicionados provavelmente pela hereditariedade, distinguem-se vários tipos de atenção, consoante esta se desvie com maior facilidade e elasticidade para impressões instáveis ou, ao invés, se fixe de modo estável e concentrado num único objeto.

A atenção é sumamente importante para o conhecimento. Estimula a rápida eficiência dos excitantes, a clareza das imagens, intensifica o trabalho de fixação e de reprodução da memória, e influi também na vontade, reforçando as vivências valorativas. Pelo contrário, a atenção inibe geralmente o curso das emoções, porque convergindo sobre a vivência subjetiva enquanto tal, as bases cognitivas da emoção são desalojadas do foco central da consciência. Mórbida e funesta se torna, sob o influxo da angústia, a concentração rígida da atenção quando se é vítima de ideias e impulsos obsessivos, como também a incapacidade patológica de concentrar a atenção em determinadas tarefas. — WlLLWOLL. (Brugger)


A concentração do espírito sobre determinado objeto. — Ribot distinguiu a atenção espontânea ou automática, que não requer qualquer esforço, e a atenção voluntária ou refletida, que implica esforço pessoal. A experiência da atenção foi profundamente analisada por Bergson em A energia espiritual (“o Esforço intelectual”, 1902) e por W. James em o Sentimento do esforço (1880): constitui trabalho de amadurecimento cujo resultado deve ser um sentimento de clareza. Mas se o esforço depende de nós, por outro lado podemos apenas esperar a luz. Este o caráter paradoxal da atenção: ser uma atividade pela qual trabalhamos para nos tornar passivos (S. Weil). Neste sentido foi que escreveu Malebranche: “A atenção é uma prece que endereçamos à divindade.” (Larousse)