O livro das Categorias que se relaciona mais especialmente com a primeira operação do espírito, teve, na Idade Média, um papel extraordinário. Isso decorre do fato de que foi justamente até o século XIII um dos mais raros escritos conservados de Aristóteles. Mas as coisas se complicam quando se sabe que esse livro foi geralmente utilizado com uma introdução que o neoplatônico Porfírio (Séc. III D . C.) havia composto para ele. Essa introdução, a famosa Isagoge, figurava, aliás, na tradução deixada por Boécio. Encontra-se aí um estudo dos cinco termos gerais: gênero, espécie, diferença, próprio e acidente (donde o subtítulo, De quinque vocibus) que tomaram o nome de Predicáveis.
As circunstâncias fizeram com que a atenção dos filósofos medievais se prendesse a uma simples frase do pequeno livro de Porfírio, na qual levantava-se a questão da realidade ou da objetividade das ideias universais. Essa questão foi então de tal forma discutida que pode-se asseverar, sem mêdo de errar, que, em torno dela dividiram-se as grandes tendências especulativas da época. As Categorias de Aristóteles foram, portanto, incluídas na escolástica, sobrecarregadas como que, de um duplo prefácio: o pequeno tratado de Porfírio–Boécio e o conjunto de discussões sobre o problema dos universais que se ligou a ele. Daí nasceu o costume escolar de tratar sucessivamente dos universais, dos predicáveis e dos predicamentos (categorias). Os autores reservam, de ordinário, essas questões para a Lógica Maior. Trataremos deles aqui mesmo, no âmbito da primeira operação do espírito, deixando às outras partes da filosofia os longos desenvolvimentos estranhos à lógica e que com tanta preferência a sobrecarregam. [Gardeil]