Íon

Íon é um rapsodo: vestido com roupas coloridas, ele recita poemas do alto de uma plataforma, acompanhado de uma cítara, no contexto de competições realizadas durante festivais organizados pelas cidades. Quando é abordado por Sócrates, Íon acaba de chegar a Atenas para participar da competição que acontece na festa da Panathenaia. Íon, que se considera o melhor dos rapsodistas, dedica-se a Homero, o melhor dos poetas, cujos poemas interpreta e cujos versos também explica. Se Íon escolheu Homero, é porque ele é um poeta inspirado pela divindade. Ora, através do rapsodo, estende-se uma corrente entre o poeta e seus ouvintes, por meio da qual a inspiração se transmite como um ímã cujo misterioso poder atrai simultaneamente várias alianças de ferro. O rapsodo, que não está em posse de alguma arte, de alguma técnica quando alcança a quem escuta a sua interpretação, não o está também quando faz obra de exegeta. Nenhum dos assuntos que Homero aborda escapa a competência do rapsodo; mas temos que admitir que, competente em todas as coisas, ele de fato em nada é. Por conseguinte, ele não possui nenhuma arte, nenhuma técnica, nenhum conhecimento, como é o caso de um grande número daqueles especialistas cujas pretensões Sócrates denuncia. [Luc Brisson]

ION 530a-530d: Prólogo
ION 530d-532b: O problema
ION 532b-533c: Universalidade de uma arte em seu domínio
ION 533c-536d: Inspiração e entusiasmo
ION 536d-541e: O domínio de cada arte lhe é próprio
ION 541e-542b: Epílogo