intelectualismo

A doutrina que afirma a preeminência e a anterioridade dos fenômenos intelectuais sobre os sentimentos e a vontade. — Por exemplo, Leibniz afirmava que os sentimentos suscitados em nós pela audição de uma sinfonia reduzem-se à percepção confusa de relações matemáticas; o sentimento da harmonia exprimiria, no fundo, percepção de relações “harmônicas”. O intelectualismo consiste em supor a lógica em todos cs fenômenos psíquicos. Opõe-se ao voluntarismo, que, ao contrário, vê um sentimento, uma ou uma decisão voluntária na fonte de toda expressão e mesmo de toda compreensão de ideias (Schopenhauer). Uma certa tradição kantiana e hegeliana opõe também o intelectualismo ao racionalismo: o intelectualismo reduz o espírito humano à faculdade de apreender as relações entre os objetos do mundo sensível (matemática, física); o racionalismo, ao contrário, distingue a razão do entendimento, o “homem” do “filósofo”, e reconhece a infinidade do espírito humano, tal como se manifesta ela na aspiração ou no dever moral, no sentimento estético, na fé religiosa ou na própria metafísica. (Larousse)


Por “intelectualismo” (do latim intellectus: intelecto, entendimento, inteligência) podemos entender toda doutrina que atribui uma primazia ao espírito, à ideia, à razão. Isto pode verificar-se, legítima ou ilegitimamente, em diversas esferas. Extremamente exagerado é o intelectualismo metafísico do idealismo transcendental, chamado idealismo alemão, que converte o âmbito total do ser em “potência” da razão. Com sensata ponderação defende o intelectualismo metafísico S. Tomás de Aquino, segundo o qual o ser em sua causa primordial divina se identifica com a razão, donde se infere que todo ente, embora não seja integralmente razão e espírito, é racional e conforme com o espírito. Ao intelectualismo metafísico corresponde o intelectualismo epistemológico (inteligibilidade), o qual não deve ser confundido com o racionalismo. Em oposição ao voluntarismo, o intelectualismo não significa que se exclua necessariamente do ser a vontade (pois onde há razão, há também vontade), mas exprime unicamente a primazia conceptual da inteligência sobre a vontade, a qual sem aquela nunca pode ser pensada. O que distingue a vontade de qualquer outra espécie de tendência é justamente a razão que lhe é imanente e a informa. O intelectualismo psicológico designa ou a citada preeminência da razão sobre a vontade ou, indo mais além, a concepção errônea de que as funções psíquicas do querer, do sentir e outras, podem ser reduzidas a meros elementos intelectuais.

De um ponto de vista mais prático (pedagogia, cultura), fala-se de intelectualismo, quando se concede espaço excessivo à vida intelectual, com prejuízo das demais forças do ânimo. Sócrates, na filosofia grega, defendeu um intelectualismo ¿tico; segundo ele, a virtude não é mais do que a ciência do bem, e por isso pode aprender-se. — Frequentemente emprega-se o termo “intelectualismo” no mesmo sentido que racionalismo. Não obstante, em oposição a este, o intelectualismo significa uma situação de precedência da razão e do espírito sem limitação ao especificamente humano do conceito e do pensamento discursivo, incluindo, portanto, o Espírito divino, infinito. — Brugger.


(in. Intellectualism; fr. Intellectualisme; al. Intellektualismus; it. Inte-llettualismó).

Com este termo Hegel designava a filosofia de Plotino, interpretando o êxtase como ato de sair da consciência sensível e “puro pensar”. “A ideia da filosofia plotiniana” — dizia ele — “é portanto um intelectualismo ou um idealismo superior que, certamente do lado do conceito, não é ainda idealismo perfeito” (Geschichte der Philosophie, I, seç. III, Plotino; trad. it., p. 41). Esse termo agora é usado pelas filosofias da vida e da ação para tachar a corrente contrária, para a qual o intelecto (ou pensamento ou razão) tem função dominante na consciência e na conduta do homem. Esse termo foi frequentemente empregado pelo intuicionismo bergsoniano, pela filosofia da ação, pelo modernismo, pelo pragmatismo, ou seja, por todas as filosofias que tendem a depreciar o valor do intelecto como via de acesso à verdade e como guia da conduta e a julgar muito mais importante a intuição, a simpatia, o instinto, a vida, a vontade, etc. Por vezes esse termo foi contraposto a voluntarismo para indicar a primazia atribuída ao intelecto sobre a vontade; nesse sentido, também foi empregado com a finalidade de caracterizar historicamente certos pontos de vista. Assim, falou-se do intelectualismo de Tomás de Aquino e do voluntarismo de Duns Scot, aludindo ao peso diferente que nesses filósofos têm as duas atividades humanas fundamentais. Trata-se, porém, de significados e caracterizações pouco precisos. (Abbagnano)