(lat. identitas indiscernibilium; in. Identity of indiscernibles; fr. Identité des indiscernables; al. Identität der Ununterscheidbaren; it. Identità degll’indiscernibili).
Princípio metafísico que exclui a existência na natureza de duas coisas absolutamente iguais. Já conhecido pelos estoicos (cf. Cícero, Acad., III, 17, 18) e retomado no Renascimento (“Duas coisas no universo não podem ser absolutamente iguais”; Nicolau de Cusa, De docta ignor., II, 11), foi defendido e ilustrado por Leibniz, que se vangloriou de ter descoberto este princípio e o princípio de razão suficiente, como sendo os dois princípios que “mudam o estado da metafísica, tornando-a real e demonstrativa” (IV Lett. a Clarke, Op., ed. Erdmann, pp. 755-56). Leibniz expressou-o dizendo simplesmente: “Não existem indivíduos indiscerníveis”, ou “Pôr duas coisas indiscerníveis significa pôr a mesma coisa sob dois nomes” (Ibid., ed. Erdmann, pp. 755-56). E afirma: “Se dois indivíduos fossem perfeitamente semelhantes e iguais, enfim indistinguíveis por si mesmos, não haveria princípio de individualização e nem haveria, ouso dizer, distinção entre diferentes indivíduos” (Nouv. ess., II, 27, § 3). Para Leibniz esse é um argumento contra a existência dos átomos (dos átomos materiais, evidentemente), que seriam idênticos por definição. Aceito e defendido por Wolff (Cosm., §§ 246-48) e por toda a escola wolffiana, bem também — a seu modo — por Hegel (Enc., § 117), esse princípio foi rejeitado por Kant: “Em duas gotas de água é possível abstrair totalmente de qualquer diferença interna (de qualidade e dé quantidade), mas basta que elas sejam intuídas simultaneamente em lugares diferentes para considerá-las numericamente diferentes. Leibniz confundiu fenômenos com coisas em si mesmas, portanto confundiu com intelligibilia, ou seja, objetos do intelecto puro (conquanto as designasse com o nome de fenômenos porque as considerava representações confusas) e assim o seu princípio dos indiscerníveis tornava-se inatacável” (Crít. R. Pura, Analítica dos Princípios, Apêndice). Em outros termos, o princípio da I. dos indiscerníveis valeria para objetos do intelecto puro, não para fenômenos, que já são bastante individualizados por sua posição no tempo e no espaço. Na filosofia contemporânea há poucos vestígios desse princípio. Alguns lógicos o admitem, mas interpretam-no a seu modo. Quine, p. ex., o expõe com o nome de “máxima da identificação dos indiscerníveis” desta forma: “Objetos indiscerníveis um do outro dentro dos termos de dado discurso devem ser considerados idênticos para esse discurso” (From a Logical Point of View, IV, 2). Outros o consideram indemonstrável e admitem que é logicamente possível que duas coisas tenham em comum todas as suas propriedades (Black, Problems of Analysis, 1954, I, 5). [Abbagnano]