Fundamental para o idealismo contemporâneo é a visão da peculiaridade do espírito, da lei objetiva e do caráter criador do conhecimento. Os idealistas vêem com notável acuidade aquilo para que os empiristas são cegos: o espírito é alguma coisa radicalmente diferente da matéria e irredutível a esta, a lei lógica ou moral não pode estribar num processo psíquico (assim, pelo menos, entre os neokantianos) e o ato de conhecimento não é simples aceitação passiva de impressões. Graças a estas concepções, o idealismo ultrapassa, sem dúvida, em larga escala, a visão primitiva do materialismo, do positivismo, do psicologismo, bem como do subjetivismo teórico e axiológico. Os idealistas opõem-se também energicamente ao irracionalismo vitalista. Devemos-lhes toda uma série de contribuições muito valiosas. Recordemos a Estética de Croce, a teoria dos valores da escola de Baden e as sutis e penetrantes análises do ato de conhecer, que por vezes tanto nos surpreendem.
Mas suas concepções são ainda unilaterais e tão exclusivamente racionalistas que certos aspectos da realidade não encontram nelas o devido lugar. A característica de todos os idealistas é uma falta de compreensão do mundo material, que eles, em última instância, reduzem à condição de puro fenômeno. Tampouco possuem, pelo menos a maioria deles, a compreensão do real e do concreto, e manifestam uma tendência para substituir o ser por funções lógicas destituídas de conteúdo. Isto é, em grande parte, a consequência de dois princípios fundamentais, admitidos sem exame prévio: o princípio da imanência e o conceptualismo. O resultado final é que, tal como sucede aos empiristas, eles não são capazes de resolver as questões concretas e agudas do homem enquanto tal. Isto se nota, particularmente, em matéria de religião, perante a qual, se excetuarmos a escola de Baden, não revelam a menor compreensão. Continuam sendo em tudo isto representantes da mentalidade típica do século XIX, e a filosofia deles é suplantada hoje por novas correntes, mais concretas e mais abertas à totalidade do ser. [Bochenski]