filosofia analítica

Após a guerra, a doutrina neopositivista continuou evoluindo no sentido traçado por Reichenbach. Fala-se hoje de uma “filosofia analítica”, oriunda, por um lado, da doutrina de Moore e, por outro lado, das ideias neopositivistas. Podem distinguir-se, dentro desta filosofia analítica, várias direções: 1) Os carnapianos que, prolongando a última fase de Carnap, empenham-se em estabelecer uma definição exata dos conceitos fundamentais das ciências no quadro de uma linguagem idealmente formalizada. 2) A escola de G. E. Moore, ao invés, toma como base a linguagem quotidiana e propugna, com seu fundador, que a coincidência com o sentido comum é a primeira condição de uma análise cientificamente correta. 3) Os “wittgensteinianos terapêuticos” consideram a filosofia uma espécie de tratamento terapêutico lógico dos pseudoproblemas, tratamento que deve ser feito num sentido rigorosamente neopositivista. 4) Os dialéticos (cf. pág. 122). 5) Por vezes, é costume considerar como representantes da “filosofia analítica” também filósofos independentes ou pertencentes a direções distintas da positivista, mas que se entregam à análise minuciosa dos conceitos e processos da ciência e da filosofia, valendo-se principalmente da ajuda da lógica matemática. Mas tais pensadores e os “dialéticos” não pertencem mais ao grupo dos filósofos da matéria; só a semelhança do método os reúne aos representantes da “filosofia analítica”.

A mais recente evolução — que se verificou quase exclusivamente nos Estados Unidos — levou a abandonar o princípio de verificação, o fenomenalismo e até o nominalismo e o fisicalismo. Além disso, todo o movimento se achegou visivelmente ao pragmatismo. [Bochenski]


O “espírito do tempo” inclui ainda a empáfia, na maioria dos casos nonchalante, ou simplesmente condescendente (na língua do Império, patronising), de uma variedade muito influente de contra ou antifilosofia, conhecida como “filosofia analítica”. A Filosofia Analítica se caracteriza, por um lado, por pressupor, acima da autoridade da Filosofia, a autoridade da Ciência “dura” (seja a Lógica e a Matemática, seja a Física e a Biologia); e, por outro lado, por pressupor a autoridade do senso comum, que, longe de questionar, de fato procura, em “última análise”, “racionalizar”. A ideologia contrafilosófica da “filosofia analítica” tem-se expressado, historicamente, com a mesma arrogância do cientificismo, traindo com demasiada frequência seu desprezo pelos que não compartilham [20] daquilo que não hesito em qualificar de sua cegueira para os verdadeiros problemas filosóficos. Os “analíticos” são tão “niilistas” quanto qualquer “pós-moderno”: sua atitude ontologicamente “deflacionária” se expressa emblematicamente pela frase: “As a matter offact, for all practical purposes, there’s no fact of the matter”. (“De fato, para todos os propósitos práticos, não há nada que corresponda a esse assunto”.)

Embora não haja nada de intrinsecamente errado em argumentar hipotético-dedutivamente, inclusive complementando a argumentação com “experimentos de pensamento”, nada de errado em usar a “navalha de Ockham”, e reduzir ao absurdo a tese adversária, o uso obsessivo e exclusivo desses expedientes, numa suposta, e subserviente “imitação da ciência”, é um abuso que tem levado a “análise” à esterilidade. Por isso, dentre outras coisas, não considero os “filósofos analíticos” típicos como autênticos filósofos. São cientificistas disfarçados de filósofos. [FERNANDES, Sérgio L. de C.. Ser Humano. Um ensaio em antropologia filosófica. Rio de Janeiro: Editora Mukharajj, 2005, p. 20-21]