VIDE fetichismo
Assim como na Verleugnung fetichista, no conflito entre a percepção da realidade, que o obriga a renunciar ao seu fantasma, e o seu desejo, que o obriga a negar a percepção, o menino não faz nem uma nem outra coisa, ou melhor, faz simultaneamente as duas coisas, desmentindo, por um lado, a evidência da sua percepção e, por outro, reconhecendo a realidade mediante o ato de assumir um sintoma perverso, assim também, na melancolia, o objeto não é nem apropriado nem perdido, mas as duas coisas acontecem ao mesmo tempo. E assim como o fetiche é, ao mesmo tempo, o sinal de algo e da sua ausência, e deve a tal contradição o próprio estatuto fantasmático, assim o objeto da intenção melancólica é, contemporaneamente, real e irreal, incorporado e perdido, afirmado e negado. Por isso, não causa surpresa que Freud tenha podido falar, a respeito da melancolia, de um “triunfo do objeto sobre o eu”, precisando que “o objeto foi, sim, suprimido, mas se mostrou mais forte que o eu”. Trata-se de um triunfo curioso, que consiste em triunfar através da própria supressão; e é, contudo, precisamente no gesto em que fica abolido que o melancólico manifesta a sua fidelidade extrema ao objeto. [AgambenE:46]