A fábula é uma narração em verso, cujos personagens são animais dotados de qualidades humanas. As mais célebres fábulas são as de Esopo, La Fontaine e Florian. Os contos de animais são fábulas redigidas em prosa. [Pierre Bayard]
(lat. fabula; in. Fable; fr. Fable, al. Fahel; it. Favolà).
A partir do Renascimento, a convicção de que as “fábulas antigas” tinham valor de sintoma ou revelação indireta da verdade levou a reinterpretar os mitos antigos, emprestando-lhes por vezes (como se vê nas obras de Bruno) significados filosóficos. Quanto ao valor das fábulas, Bacon e Vico representam atitudes fundamentais. Bacon achava que as fábulas estão entre o silêncio e o esquecimento das idades perdidas e a memória e a evidência das idades mais próximas, de que possuímos documentos escritos. “As fábulas”, escreveu ele, “não são produto das suas épocas nem fruto da invenção poética, mas uma espécie de relíquia sagrada e tênue aura de tempos melhores, que da tradição das nações mais antigas chegaram até as trompas e as flautas dos gregos” (De sapientia veterum, 1609, Pref.). Portanto, Bacon propendia a entrever nas fábulas um significado alegórico intencional. Essa tese é negada e combatida, um século depois, por Vico, para quem as fábulas são tais só do ponto de vista dos doutos, ao passo que para os povos primitivos que as criaram eram narrações verdadeiras. “Os filósofos”, diz Vico, “atribuíram às fábula interpretações físicas, morais, metafísicas ou de outras ciências, segundo lhes animassem a fantasia o ouro, os compromissos ou o capricho; assim, com o auxílio das suas alegorias eruditas supuseram-nas como fábulas. Mas os primeiros autores dessas fábulas não entenderam tais sentidos doutos, nem, pela sua natureza rústica e ignorante, podiam entendê-los: antes, por essa mesma natureza, conceberam as fábulas como narrações verdadeiras… das suas coisas divinas e humanas” (Sc. nuova, II, Della metafísica poética). Essa ideia de Vico ficou como fundamento da moderna filosofia das formas simbólicas (v. mito). [Abbagnano]