Como são possíveis os juízos sintéticos a priori na matemática? A solução é a seguinte: os juízos sintéticos a priori são possíveis na matemática porque esta se funda no espaço e no tempo. Ora: o espaço e o tempo não são realidades metafísicas, nem físicas que tenham uma existência em si e por si, mas formas de nossa capacidade ou faculdade de perceber; são formas da intuição, de toda intuição, qualquer que ela seja. Assim, visto que a matemática está fundada nas formas da intuição, toda intuição que depois tenhamos terá que estar sujeita e obediente às formas dessa intuição, de toda intuição em geral, que são o espaço o o tempo. Como chega Kant a este resultado? É o que vamos ver agora.
Para chegar a este resultado Kant tem que demonstrar três coisas, tem que apresentar-nos a prova de três asserções. A primeira, que o espaço e o tempo são puros, ou seja, a priori, ou seja, que não procedem da experiência. A segunda, que o espaço e o tempo não são conceitos de coisas reais, mas intuições. E a terceira, que esse espaço e tempo, intuições puras, intuições a priori, são, com efeito, o fundamento da possibilidade dos juízos sintéticos na matemática. E, com efeito, Kant desenvolve todo seu processo ideológico nessas três questões fundamentais. As duas primeiras trata-as juntas, e ao tratamento delas dá o nome de “exposição metafísica”. A terceira trata à parte e dá-lhe o nome de “exposição transcendental”. Por conseguinte, deve-se seguir sua própria marcha e iniciá-la com a “exposição metafísica do espaço”. Logo depois passar à “exposição transcendental do espaço”. A seguir à “exposição metafísica do tempo”, à “exposição transcendental do tempo”, e assim chegar com isso à conclusão de todo o primeiro problema acerca da matemática pura. [Morente]