exôterikoí lógoi: discursos externos, obras populares
1. Um dos problemas literários ligados ao estudo da filosofia de Platão é a possibilidade de, pelo menos, parte do seu pensar, poder não ter sido consignado à escrita, e à expressão em forma de diálogo (ver agrapha dogmata). No caso de Aristóteles temos como certeza que os tratados existentes não representam toda a sua produção literária. Tem-se conhecimento de que houve na Antiguidade uma série de diálogos publicados por Aristóteles enquanto membro da Academia, cujos fragmentos preservados indicam uma perspectiva consideravelmente mais platônica dos vários problemas, muito especialmente a sua teoria da alma, do que aquela que emerge de uma leitura dos tratados.
2. A investigação moderna situa os diálogos dentro do problema da evolução filosófica de Aristóteles, mas uma antiga tradição literária, que começa com Cícero (De fin. V, 12; confrontar Aulo Gélio, Noctes Att. XX, 5, 1) lê as diferenças entre os diálogos e os tratados não em função de uma evolução intelectual, mas antes como uma diferença entre dois tipos distintos, embora contemporâneos, de composição literária: discursos externos (exoterikoi logoi) i. e., obras quase populares destinadas a um vasto público, e lições (akroatikoi logoi) ministradas no Liceu a grupos de estudantes tecnicamente mais bem preparados.
3. Exoterikoi logoi são, na verdade, referidos nos tratados preservados e enquanto algumas das referências se adaptam convenientemente ao que sabemos de um dado diálogo (v. g. a referência na Ethica Nichomacos I, 1102a podia adequar-se ao Protréptico), há outros exemplos (v. g. Physica 217b e Pol. 1323a quando comparados com a Ethica Nichomacos I, 1098b) em que não pode ser assim, e o significado dos exoterikoi logoi é mais afim de «argumentos circulantes fora da escola peripatética». [FEPeters]