Já os antigos psicólogos haviam chamado a atenção sobre uma especial afinidade e a analogia que existe entre todos os fenômenos psíquicos, e na qual os fenômenos físicos não têm parte.
Todo fenômeno psíquico está caracterizado por aquilo que os escolásticos da Idade Média denominaram a in-existência (esta palavra não significa a não existência e sim a existência em) intencional (ou mental) (Nota 1) de um objeto, e que nós chamaríamos, embora com expressões não de todo inequívocas, a referência a um conteúdo, a direção a um objeto (pelo que, aqui, não se deve entender uma realidade), ou a objetividade imanente. Todo fenômeno psíquico contém em si algo como seu objeto, se bem que nem todos do mesmo modo. •Na representação há algo representado; no juízo há algo admitido ou negado; no amor, algo amado; no ódio, algo odiado; no apetite, algo apetecido, etc. (Nota 2).
Esta inexistência intencional é própria exclusivamente dos fenômenos psíquicos. Fenômeno físico algum oferece qualquer coisa semelhante. Com o que podemos definir os fenômenos psíquicos dizendo que são aqueles fenômenos que contêm em si, intencionalmente, um objeto.
(Nota 1) Usam também a expressão “estar objetivamente (objective) em algo”, a qual, em se pretendendo servir-se dela agora, seria tomada ao contrário, como designação de uma existência real fora do espírito. Porém a expressão de “ser objetivo em sentido imanente”, que às vezes se usa no mesmo sentido, e no oual o imanente impede manifestamente o equívoco temível, pode-se substituí-la.
(Nota 2) Já Aristóteles havia falado dessa inerência psíquica. Em seus livros sobre a alma diz que o sentido, enquanto sentido, está em quem sente; o sentido apreende o sentido, sem a matéria; o pensado está no intelecto pensante. Em Fílon encontramos igualmente a doutrina da existência e inexistência mental. Mas confundindo esta com a existência, em seu sentido próprio, chega à sua doutrina contraditória do Logos e das Ideias Aos neoplatônicos acontece algo semelhante. Santo Agostinho menciona o mesmo iato, em sua doutrina do Verbum mentis e o exitus interior deste. Santo Anselmo o faz em seu famoso argumento ontológico, sendo muitos os que acentuaram que o fundamento de seu paralogismo consistiu em considerar a existência mental como uma existência real (cf. Ueberweg, Historia da filosofia, II). Santo Tomás de Aquino ensina que o pensado está intencionalmente em quem pensa; ó objeto do amor no amante; o apetecido em quem apetece; e utiliza estas afirmações para fins teológicos. Explica a inerência do Espírito Santo, de que fala a Escritura, como uma inerência intencional mediante o amor. E procura encontrar também certa analogia com o mistério da Trindade e da procedência do Verbo e do Espírito od intra, na inexistência intencional que há no pensamento e no amor.
(Psychologie vom empirischen Standpunkt, livro II, cap. I, § 5.) [Brentano]