esse

Isto não vale, aliás, da ideia de ser (ens) de S. Tomás de Aquino fundada na sua concepção intensiva do existir (esse) como perfeição suprema e fundamento radical do ente. Neste caso a essência não exprime senão a contração da perfeição de existir a um modo particular e deve ao próprio existir não só a sua atuação mas, também, toda a realidade e determinação. E preciso confessar que esta concepção, absolutamente original, de S. Tomás, ao aplicar ao binômio esse-essentia, sob o influxo da ideia cristã de criação, o esquema aristotélico ato e potência, enriquecido outrossim pela teoria neoplatônica da participação, é algo de desconhecido para Heidegger. É sabido, aliás, que o pensamento autêntico de S, Tomás, neste ponto fundamental, só foi redescoberto nos anos posteriores à publicação de Sein und Zeit. Heidegger encara a Metafísica tradicional, como ela se apresenta em Aristóteles e em todos os outros pensadores até Hegel, onde o que conta, metafisicamente, é antes de tudo a forma, a essência. Aliás, se se pudesse subsumir o seu próprio filosofar sob a antítese gilsoniana, primado do existir ou primado da essência, ele deveria, sem sombra de dúvida, ser reputado entre os essencialistas malgrado a impressão contrária de não poucos leitores apressados de sua obra (Cf. Carta sobre o Humanismo p. 19). Julgado segundo os cânones da Filosofia de S. Tomás, Heidegger será tachado de esquecimento do ser, no sentido de ato de existir (actus essendi) das coisas. Se se examina, ao invés, a história da Filosofia ocidental à luz da problemática lançada por Heidegger é S. Tomás que não escapa à sina geral de esquecimento da questão do sentido de ser. De fato, ao interpretar o existir como ato da essência e como fundamento do ente, longe de se deter a reconsiderar o sentido atribuído tradicionalmente a ser, ele não faz senão consagrar tal compreensão, estendendo-a a um novo domínio. A. descoberta de S. Tomás não se move no plano da questão do sentido de ser. Ela pressupõe seja o sentido tradicional de ser como existir, seja o esquema ato-potência, fundado nesta mesma interpretação tradicional de ser. [MacDowell]