Epinomis

Considerado por estudiosos como um apêndice de Leis (encontram-se os mesmos interlocutores) não é confirmado ser de Platão. Trata-se de uma obra escolar muito sistemática, segundo Luc Brisson, destinada a mostrar que o programa de estudos dos membros do colegiado, a mais alta magistratura da cidade das Leis, descrita no livro XII, culmina no estudo da astronomia, a qual se confunde com a teologia. Os corpos celestes com efeito são deuses, quer dizer viventes cujo corpo, feito de fogo (como se deduz do Timeu 91c-92b), é destrutível de direito mas não de fato (Timeu 41a-b), e cuja alma é dotada de uma movimento regular e permanente, porque é dirigido pelo intelecto, donde derivam igualmente as leis da cidade. Os membros do colegiado de vigília que garantem o salvaguarda da cidade devem portanto ter por último objeto de estudo esta ciência dos movimentos regulares e permanentes que instaura o intelecto nos corpos celestes. Nota-se no Epinomis três diferenças importantes em relação à astronomia evocada no Timeu e no livro X das Leis. O fato de que a alma seja dirigida por um intelecto que garante a regularidade e permanência a seus movimentos conduz o autor do Epinomis a evocar o Destino e seu caráter irrevogável, um tema que não está relacionado de maneira tão direta com a marcha dos corpos celestes na República, no Timeu ou nas Leis. Note-se também a introdução de um quinto elemento, ausente do Timeu, o éter. Enfim, não se pode estar surpreso pela seguinte argumentação: o corpo dos objetos celestes ;e muito maior do que aparece a olho nu; ou para pôr tais massas em movimento, é preciso um motor particularmente poderoso; e este motor não poder ser senão a alma de um deus. Deduzir a divindade dos astros, mesmo indiretamente, do tamanho do corpo que deve mover a alma, parece ser uma prática estranha a Platão. Trata-se de elementos que levantam a inautenticidade do Epinomis, que, promovendo uma teologia astral, teve um papel preponderante na história religiosa da época helênica. A obra, sem dúvida composta na Antiga Academia, constitui uma tentativa interessante para aportar uma conclusão ao livro XII das Leis. (Brisson, Platon, oeuvres complètes)