A ideia de empiricidade deve ser compreendida à luz da distinção anterior entre o campo transcendental e o campo empírico. Segundo esta ideia, o conhecimento científico deve sempre apoiar-se, em última instância, nos dados que são acessíveis à percepção, vale dizer, na experiência empírica. Observemos que essa ideia está em perfeita sintonia com o ideal de matematização. Com efeito, as matemáticas, nelas mesmas, permanecem indeterminadas relativamente à realidade. Assim, elas nos ensinam que há três geometrias possíveis. É para a experiência que precisamos nos voltar para tentarmos determinar qual é a métrica do mundo real. Quanto mais complicados forem os modelos matemáticos, maior será a indeterminação.
De qualquer forma, mesmo que não consigamos obter uma descrição univocamente determinada, por meio de equações diferenciais (como é o caso, frequentemente, na física), só podemos utilizar essas equações, de modo efetivo, se conhecermos as “condições-limites” (condições iniciais ou condições fronteiriças). Ora, essas condições não podem ser determinadas matematicamente. Portanto, a recusa aos modelos matemáticos nos obriga a voltarmos para a experiência, entendida no sentido de um contato empírico com a realidade. [Ladrière]