diaphora

diaphorá: diferença, diferença específica

1. A presença das diaphorai é explícita no processo dialéctico platônico da divisão (diairesis) onde a «forma genérica» é dividida de acordo com as espécies (Soph. 253 d-e) ou, como a questão é posta no Fedro 265e, «nas articulações naturais». O que são estas «articulações naturais» é descrito mais exaustivamente no Pol. 262a-263b, 285b. O gênero deve ser dividido apenas onde se separa em duas Formas específicas. Dividir um gênero em partes não resultará visto que uma parte (meros) e uma Forma específica (eidos) não são a mesma coisa (ibid. 262b). As diaphorai, por conseguinte, devem distinguir as espécies.

2. Isto faz sentido num sistema de conceitos, mas cria grandes dificuldades se os eide são substâncias autônomas e indivisíveis como, sem dúvida, Platão os viu; não há lugar na teoria platônica nem para Formas «genéricas» nem «específicas» (ver diairesis). Espeusipo, sucessor de Platão, que negou os eide, usou um método exaustivo de diairesis, tentando incluir todas as diaphorai, presumivelmente porque, com o desaparecimento dos eide hipostasiados, eram as diaphorai que davam ao novo eidos conceptual o seu conteúdo (ver Aristóteles, Anal. post. II, 97a).

3. Em Aristóteles o processo da diairesis prossegue com a divisão do gênero por meio das diaphorai especificamente distintas até a infima species, onde a atividade terminará em definição (horismos; ver a definição de horismos em Top. I, 103b). Em Top. VI, 143a-145b há regras elaboradas para a escolha das diaphorai na diairesis.

4. Quanto aos aspectos ontológicos do problema, na Metafísica Aristóteles desloca a discussão para as categorias da matéria e forma. O gênero está para a diaphorá como a matéria sensível para a forma, e assim pode ser caracterizado como «matéria inteligível» (hyle noete, a caracterização não é particularmente feliz visto que ele usa a expressão também noutro sentido; ver hyle, aphairesis), enquanto todas as diaphorai são recapituladas na última, a do atomon eidos ou infima species, e serve como sua essência (ousia) (Metafísica 1038a, 1045a). [FEPeters]