desfazimento

Como os remédios contra o enorme vigor e resiliência dos processos da ação só são eficazes na condição de pluralidade, é muito perigoso usar essa faculdade em qualquer outro domínio que não o dos assuntos humanos. A tecnologia e a ciência natural moderna, que já não colhem materiais da natureza, nem a observam ou imitam seus processos, mas parecem realmente agir nela, aparentemente introduziram, por isso mesmo, a irreversibilidade e a imprevisibilidade humanas no domínio da natureza, onde não há remédio para desfazer o que foi feito. Analogamente, parece que um dos grandes perigos de agir nos moldes da fabricação e dentro da estrutura de sua categoria de meios e fins reside na concomitante autoprivação dos remédios inerentes apenas à ação, de modo que se é obrigado não só a fazer [to do] recorrendo aos meios da violência necessários a toda fabricação, mas também a desfazer [to undo] o que foi feito por meio da destruição, como se destrói um objeto que não deu certo. Nada aparece de modo tão evidente nessas tentativas quanto a grandeza do poder humano cuja fonte reside na capacidade de agir e que, sem os remédios inerentes à ação, começa inevitavelmente a subjugar e a destruir, não o próprio homem, mas as condições nas quais a vida lhe foi dada. [ArendtCH:C33]