Entendemos por dados dos sentidos não simplesmente as sensações e as percepções, mas o que, segundo alguns autores, constitui a sensação ou a percepção em ordem à apreensão da realidade exterior.
Tanto para o sentido comum como para qualquer doutrina epistemológica realista, especialmente para qualquer doutrina epistemológica realista ingénua, a percepção sensível de um objeto sensível é a apreensão directa deste objeto. Assim, a percepção do objeto chamado árvore equivale à percepção da própria árvore.
Em virtude das dificuldades que uma doutrina epistemológica realista suscita – por exemplo, a dificuldade que a expressão “percepção da própria coisa” suscita -, tentou-se salvá-las supondo que o que se percebem são as qualidades sensíveis, e estas qualidades sensíveis são justamente “os dados dos sentidos”.
Há vários modos de entender tais dados: pode supor-se, com Berkeley, que ser é ser percebido, caso em que não só se percebem dados dos sentidos, mas que a realidade está constituída, por assim dizer, por tais dados: não há, portanto, segundo Berkeley, uma coisa que se encontre mais além dos dados dos sentidos. Pode supor-se também que continuem a existir coisas ou objetos, mas que estes são dados à percepção na forma que se chama aparecer, de modo que o que se percebe de um objeto não é então o próprio objeto, mas as aparências do objeto. O objeto percebido como aparência é um dado dos sentidos ou, melhor, um conjunto de dados dos sentidos.
Esta maneira de interpretar a noção dados dos sentidos é a mais comum , mas mesmo então pode ser compreendida pelo menos de duas maneiras: por um lado, pode supor-se que há no sensível formas ou espécies que são percebidas de maneira que o que se percebem são as chamadas espécies sensíveis das coisas. Por outro lado, pode supor-se que não há do sensível nenhuma forma ou espécie particular do sensível, mas que na confrontação do sujeito percipiente com as coisas perceptíveis surge sempre uma capacidade intermédia, um objeto diferente do próprio objeto. Este objeto intermédio é um dado dos sentidos ou, uma vez mais, um conjunto de dados dos sentidos.
A última maneira de compreender “dados dos sentidos” é a própria do fenomenismo, pelo qual os dados dos sentidos também foram chamados fenômenos. Há por sua vez diversos modos de adoptar uma concepção fenomenista dependendo em grande parte do modo como os dados dos sentidos se relacionem com o objeto perceptível e do modo como os dados dos sentidos se relacionem com o sujeito percipiente…
Para rebater a doutrina dos dados dos sentidos em qualquer das formas indicadas, especialmente na forma fenomenista, adoptaram-se ou afirmaram-se várias doutrinas epistemológicas (ou gnoseológicas). O realismo é uma delas; também o idealismo.
Parece que o único modo de rejeitar essa doutrina é adoptar outra que torne inúteis os dados dos sentidos. (Ferrater)