conscientia

Originalmente, ‘conscientia’ era a tradução latina de ‘syneidesis’. A distinção entre ‘conscientia’ e ‘synderesis’ surgiu nos comentários sobre a interpretação de S. Jerônimo da história bíblica de Caim em Gn 4. Jerônimo propunha tanto que Caim, nas suas ações más, continuava tendo uma consciência, isto é, que sabia que o que estava fazendo era errado, como também, entretanto, que em alguns casos as pessoas que fazem ações más são capazes de, com o tempo, obliterar a consciência de que o que estão fazendo é errado. Desse modo, os comentadores queriam uma palavra para aquilo que é indelével, que sobrevive mesmo no pior ser humano, para distingui-lo da consciência do bem e do mal que pode ser suprimida, ‘synderesis’ sendo utilizada para o primeiro, ‘conscientia’ para a segunda (Timothy C. Potts, Conscience in Medieval Philosophy, Cambridge, 1980, 9-11, e de um modo mais geral, ao longo de toda a obra).

Diferentes teólogos compreendem e desenvolvem essa distinção de modos diferentes, nem sempre compatíveis, assim como distinguem a intentio e a ação à qual está relacionada. Mas a partir do século XII, todas essas expressões tornam-se fundamentais para a prática e para a teoria. Consequentemente, quando Sto. Tomás, tendo aceitado a visão de Aristóteles do raciocínio prático e o desenvolvimento da doutrina [203] paulina da vontade humana falível feito por Agostinho, tem de integrá-los numa única compreensão, unificada e complexa, da ação humana como tal, ele também não pôde evitar a tarefa — nenhum professor na Universidade de Paris podería tê-la evitado — de mostrar a função de expressões tais como intentio, synderesis e conscientia no seu esquema geral de conceitos da ação. [MACINTYRE, Alasdair. Justiça de quem? Qual racionalidade ? Tradução Marcelo Pimenta Marques. São Paulo: Loyola. 1991]


Conscientia, “saber [scientia] com [con-]”, é, diz são Tomás de Aquino, a aplicação do saber a uma ação particular. Ela tem três funções: 1. Testemunhar: eu julgo que (não) fiz algo moralmente relevante, por exemplo, xinguei os outros. 2. Restringir e incitar, i.e., proibir e comandar: julgo que (não) deveria fazer algo. 3. Desculpar ou acusar, torturar, censurar: julgo que o que fiz (não) foi bem-feito. (Summa theologiae, Ia, 69, 13). Consciência não é, para são Tomás, uma “voz” ou uma “convocação” (de Deus), nem envolve uma bifurcação de si mesmo. Consciência é simplesmente o raciocínio prático sobre problemas morais, sendo, portanto, tão falível quanto qualquer outro raciocínio.

O alemão Gewissen não está diretamente relacionado a gewiss, “certo”. É uma tradução de conscientia, usando wissen,” saber”, e ge-, “junto, com”. Como conscientia, referia-se inicialmente à função 1 acima, saber o que alguém fez ou não fez. [DH]