Por concurso de Deus (concursus divinus) entende-se o influxo imediato de Deus na operação do ente criado e no efeito da mesma, não um influxo puramente mediato, como opinava Durando, consistindo apenas em manter no ser a criatura e suas virtudes operativas. O concurso divino imediato a tudo quanto é criado resulta da íntima dependência deste relativamente ao único Ser independente: Deus. Tal cooperação não exclui a ação moral de Deus sobre a criatura livre, por meio de promessas, preceitos e exortações.
Acerca da natureza do concurso divino, particularmente de sua compatibilidade com a liberdade humana, diversas concepções imperam na escolástica. Bañez, a escola dominicana moderna e o tomismo rígido não se limitam a ensinar um impulso imediato ou imediata moção de Deus (praemotio physica) para conduzir a criatura desde a disposição operativa próxima até à própria operação, mas defendem, além disso, a existência de uma predeterminação da orientação de sua vontade (praedeterminatio physica). O homem não pode operar sem a moção de Deus, nem, recebida esta, pode deixar de operar. A indefectível vinculação de impulso divino e de ação humana garante, assim, a execução da vontade de Deus e a presciência divina. No entanto, segundo Bañez, nem a moção nem a a predeterminação divinas atentam contra a liberdade da vontade criatural, porque Deus move cada criatura de acordo com a natureza dela; move portanto uma criatura livre, de sorte que a liberdade desta permaneça intacta sob o impulso divino. — Outros escolásticos propugnam só uma moção indiferente por parte de Deus, que não predetermina a direção da vontade.
O molinismo, defendido principalmente pelos grandes teólogos jesuítas do século XVI, vê na doutrina “tomista” um sério risco para a liberdade humana e também para a santidade de Deus, o qual logicamente parece arcar com a responsabilidade dos pecados dos homens. A criatura livre não necessita de nenhuma moção, menos ainda de uma predeterminação, para operar; pelo contrário, como natureza ativa, produz seu ato em virtude de sua própria atividade e dirige-o também na decisão livre. A dependência, relativamente a Deus, Ser primeiro, essencial a todo ente criado, permanece intacta, pelo fato de o mesmo ato ser produzido simultaneamente por Deus e pela criatura (concursus simultaneas): por Deus, no aspecto do ser; pela criatura, no aspecto do ser-assim (essência) (ou seja, no aspecto da orientação da vontade). Sendo assim, a liberdade humana permanece intacta. — Segundo os “tomistas”, o ponto fraco desta teoria reside na transgressão do princípio de causalidade, e, além disso, na “dependência” de Deus relativamente ao homem, que a si mesmo traça o caminho, determinando com Isso também o concurso por parte de Deus, e principalmente na dificuldade de explicar, de modo satisfatório, a presciência divina. — A insuficiência de ambas as tentativas de solução conduziu a articular outras propostas; todas porém desembocam numa ou noutra das duas apontadas. Embora o fato do concurso divino subsista firme, parece que o modo de sua realização se subtrai a uma compreensão definitiva por parte do homem. — Rast. [Brugger]