concupiscência

Nenhum pecado foi tão execrado quanto o da concuspiscência. Com razão e sem razão. Sem razão, em primeiro lugar, porque distância grande vai do sexual ao erótico, ainda que [95] um possa cercar o outro de uma áurea que, isolado, lhe não pertence. Só sexo, qualquer humano o tem como «coisa» sua. Com razão, por conseguinte, e em segundo lugar, quando o sexo não se excede em Eros. Este está sempre do lado do verbo ser; aquele, do lado do verbo ter. Execrar a concupiscência, a indomável cobiça de possuir, é, pois, sinal do repúdio de um mundo só feito de «coisas», «coisas» que queremos ter, «coisas» que, sem querer, nos têm. Neste sentido, bem podemos falar de um diabólico inerente ao amor só-humano. Mas não forcemos de mais a distinção — que, por aí, chegaríamos a pretender vedar ao comum dos homens a única possibilidade de aceder ao êxtase «descoisificante», e, assim, por mais fortes vínculos a Ele se associariam todos os pregadores de uma moralidade já frustrada em suas raízes. Hipócrita ou não, o puritano pode volver-se no mais querido amigo do Supremo Amigo das Coisas. [EudoroMito:95-96]