coisa transcendente

É verdade que a evidência da coisa revela um caráter particular que a distingue de qualquer outra formação imaginária ou ideal e que acompanha o seu modo próprio de apresentação (por esboços): a sua transcendência. A coisa individual apercebida está aí e impõe-se, não pertence ao vivido no qual o seu sentido de ser é, todavia, dado. E esta transcendência, na medida em que as idealidades são, em última instância, «fundadas» na percepção, repercute-se sobre essas próprias idealidades, constituindo o último reenvio da sua «transcendência ideal».

Entre as «próprias coisas» dadas na evidência, a coisa apercebida será então considerada como o objeto próprio da fenomenologia? Esta interpretação seria possível pois que a «região coisa» define o conjunto dos objetivos que têm um sentido de transcendência que é uma ideia diretriz, um fio condutor da analítica intencional (Idées p. 503).

Mas uma nova atenção dirigida à evidência e ao objeto da fenomenologia conduzirá antes a rejeitar a designação de uma «região» designável como tal a título de objeto. É de resto neste ponto que a filosofia como ciência não pode já na sua estrutura, ser confrontada termo a termo com uma ciência; essencialmente em função do radicalismo — ou preocupação de autolegitimação — que a anima. Ao fechamento sistemático da ciência, a fenomenologia tende a substituir um outro fechamento que é o da sua própria reflexividade. [Schérer]