ciência dos fins

Passou o tempo em que as ciências normativas tinham lugar na classificação. Eram, como se sabe, a lógica, a estética, a ética. Não há que voltar a discutir este erro. Nem a lógica, onde à bivalência clássica se juntam hoje estruturas de valência superior, nem a estética, depois da ruína de velhas pretensões normativas — a história da arte basta para demonstrá-lo —, nem sequer a ética, salvo de um ponto de partida dogmático e transcendente — o que desde logo destrói qualquer pretensão científica —, são ciências normativas; não em particular, como caraterística especial ou de grupo, mas no sentido geral, porque a norma começa onde a ciência acaba. Há «normas científicas» (pela origem), não há «ciências normativas». Uma ciência dos fins não é mais possível do que uma ciência das causas. Quanto aos fins, a única ciência possível… é a dos meios. £ o que se chama uma técnica. […]

Se uma ciência dos fins fosse possível (e só ela poderia ter «leis finais»), os fins teriam uma regularidade, uma quase uniformidade que lhes falta. O fato é análogo àquele de que fala Schopenhauer a propósito da metafísica: «Se a razão fosse uma faculdade e a metafísica o seu fim … capaz de fornecer noções para além da experiência, deveria encontrar-se, entre os homens, na metafísica e na religião (o que é o mesmo) o acordo que se encontra nas questões matemáticas. Ora acontece exatamente o contrário.»

Vieira de Almeida, Pontos de Referência, 1961, pp. 106-107.