A terceira estrofe recolhe o chamado das coisas e o chamado do mundo. É que a terceira estrofe evoca originariamente a partir da simplicidade de um chamado íntimo, esse que evoca a di-ferença sem dizê-la. Evocar no sentido originário de deixar vir a intimidade de mundo e coisa é propriamente chamar. Esse chamado é a essência do falar. No dito do poema, vigora o falar. É o falar da linguagem. A linguagem fala. A linguagem fala deixando vir o chamado, coisa-mundo e mundo-coisa, no entre da di-ferença. O que é assim chamado chega sob a recomendação da di-ferença. Usamos o verbo befehlen, comumente entendido na acepção de comando, no sentido antigo de recomendar e entregar, ainda presente na expressão “Befiehl dem Herm deine Wege” [Recomende (entregue) ao Senhor os teus caminhos]. O chamado da linguagem recomenda e entrega o que nela é chamado para o chamado da di-ferença. A di-ferença deixa o fazer-se coisa das coisas repousar no fazer-se mundo do mundo. A di-ferença des-apropria a coisa para entregá-la ao repouso da quadratura. Essa desapropriação não retira nada das coisas. E ela que libera as coisas para o seu próprio: resguardar o mundo. Guardar no repouso é aquietar. A di-ferença aquieta no mundo a coisa como coisa. [Heidegger – Caminho da Linguagem]