Pela expressão “campo transcendental”, designamos um domínio da reflexão filosófica tratando das condições de possibilidade do conhecimento. Esta problemática “transcendental”, vale dizer, relativa às condições de possibilidade do conhecimento, foi elaborada por Kant, considerado um dos mais ilustres porta-vozes da metafísica da representação. Segundo Kant, o lugar do transcendental, ou seja, o lugar onde se situam as condições tornando possível o conhecimento e o próprio objeto, é a subjetividade pura de que falamos acima. O campo transcendental é o campo da subjetividade pura. Esta não é uma realidade substancial, mas uma pura função de unificação, a instância em virtude da qual e para a qual existe representação; mais radicalmente, é a instância constituinte a partir da qual se produz a representação enquanto tal.
A subjetividade pura é o olhar do espectador puro que converte o “espetáculo em espetáculo”. Essa subjetividade, cuja estrutura interna contém todas as condições de possibilidade do conhecimento, essa subjetividade transcendental é uma subjetividade sem espessura. Não se trata de um sujeito psicológico, de um sujeito empírico; tampouco do sujeito que tem consciência de si mesmo. De forma alguma se trata daquilo que pertence ao vivido. Trata-se de uma pura função que, enquanto tal, só é apreendida e tematizada pela reflexão filosófica.
Portanto, de um lado, há o campo transcendental; do outro, tudo o que é dado na experiência, tudo o que justamente é constituído em objeto. Este domínio é o do empírico. É este domínio que constitui o campo aberto à investigação ou à pesquisa científica. O domínio da pesquisa científica é o domínio do empírico: os objetos científicos valem, para nós, enquanto objetos empíricos. Propriamente falando, não existe ciência (no sentido da ciência moderna, positiva) daquilo que se situa totalmente fora do campo empírico. Encontramos, na separação radical entre o campo transcendental e o campo empírico, a oposição entre o sujeito puro da representação e o objeto, considerado como aquilo que é dado à representação. A separação entre o campo transcendental e o campo empírico constitui um aspecto fundamental da metafísica da representação. [Ladrière]