calúnia

Devemos citar aqui, para concluir, um texto talmúdico em que se podería pensar quando, em páginas muito brilhantes deste livro, se trata da terra como um movimento essencial da άλήθεια, da terra que desabrocha ou faz remontar ao Geviert as coisas que exprimem o mundo? Na p. 15 do tratado Arakhin do Talmude de Babilônia, discute-se o problema modestamente ético da calúnia. Problema modestamente ético, se se quiser.

Na realidade, pensemos no poder e na propaganda onde ela se torna uma questão de vida ou de morte. Bem entendido, os doutores do Talmude estão contra a maledicência e a calúnia. Mas como justificar as suas certezas? Por um versículo das Escrituras, bem entendido. Mas, discutindo uma questão, estes doutores — não menos que Anaximandro — sugerem algumas outras. Como é que sabem, então, que a calúnia é má? Em Números, XIV, 3 7, os exploradores da Terra Santa enviados por Moisés em reconhecimento dizem o pior possível da terra esperada. O versículo xiv, 37, diz-nos, então, que os maledicentes foram punidos com a morte. É seguro que a sua morte não se explica de outra maneira? Não e não. O versículo xiv, 16, di-lo com todas as letras: a calúnia valeu a esses homens a pena capital.

Mas a lição dos doutores é outra: se caluniar uma terra que, afinal de contas, não é mais do que «pedras e árvores» vale a morte para os caluniadores, como é grave, a fortiori, uma calúnia que toca pessoas humanas! Mas a lição ainda é outra: está no a fortiori; a pessoa é mais santa do que uma terra, mesmo quando a terra é a Terra Santa. Ao lado de uma pessoa ofendida, essa terra — santa e prometida — é apenas nudez e deserto, um monte informe de florestas e de pedras. [Levinas, prefácio a Zarader]