A maioria dos exemplos remanescentes de caligrafia antiga tardia e medieval foi obra de copistas especialmente treinados para escrever livros ou documentos — às vezes as duas coisas. Na caligrafia vertical convencionalmente usada em livros, cada letra separada era formada por um certo número de traços de pena, enquanto que as letras na escrita documental cursiva eram feitas com menos traços e podiam ser ligadas umas às outras de várias maneiras. A letra vertical tinha em vista, primordialmente, a legibilidade; a cursiva preocupava-se não só com a legibilidade mas também com a rapidez. Diferentes tipos de caligrafia literária e documental foram usados em todos os períodos: um saltério seria escrito mais formalmente do que comentários nas margens de um texto clássico; uma bula papal ou cartas régias mais decorativamente do que um registro notarial ou uma epístola particular. Exemplos de caligrafia de copistas inábeis, alguns dos quais também eram escritores, são muito raros antes do século XV, quando a habilidade para escrever estava começando a ser considerada ponto pacífico. Além de um ou mais tipos e até mesmo de estilos de escrita, o treinamento de um copista incluía os sistemas de pontuação e abreviação, os quais, tal como a própria caligrafia, variavam consideravelmente conforme períodos e áreas.
O desenvolvimento geral da arte caligráfica na Europa ocidental foi determinado predominantemente por quatro fatores. A caligrafia vertical podia evoluir para a cursiva através de mudanças no ductus das letras (isto é, no número, ordem e direção de seus traços componentes); daí, a gradual evolução, no período romano, do AEBDGP vertical maiúsculo para o cursivo aebdgp minúsculo. Inversamente, o rápido ductus de uma escrita cursiva documental podia ser elaborado a fim de criar uma nova escrita vertical apropriada para livros. Assim que uma nova escrita tivesse adquirido um estilo normatizado, novos desenvolvimentos comprometiam quase sempre sua qualidade e, por vezes, até sua legibilidade. Finalmente, uma escrita antiquada podia ser substituída de forma deliberada por uma versão mais ou menos revista de alguma escrita anterior mais adequada e atraente. Um ou mais desses fatores atuou em cada uma das seis fases principais do desenvolvimento da caligrafia na Europa ocidental depois de cerca de 400.
Na fase antiga tardia (séculos V e VI), importantes textos clássicos como Virgílio ainda podiam ser escritos em capital rústica (1), a escrita romana original para livros; mas a maioria dos textos pagãos e cristãos era em escrita livresca uncial (2), uma escrita mais simples e ainda formal, derivada da cursiva romana primitiva. A semi-uncial (4), uma nova escrita baseada na cursiva da época, rivalizava com a uncial no século VI; os apontamentos escolares nas margens de livros profissionalmente escritos apresentam-se num despretensioso cursivo literário. A cursiva romana tardia (3) de documentos oficiais e notariais, uma caligrafia algo decorativa, tinha atingido a maturidade por volta de 350. Os padrões são elevados e o sistema de escrita era suficientemente diversificado para satisfazer todas as necessidades de uma sociedade altamente letrada. Os alfabetos semi-uncial e cursivo são facilmente reconhecíveis como os ancestrais de todas as escritas europeias subsequentes. No leste europeu, os textos de direito romano eram escritos em versões regionais da caligrafia uncial e semi-uncial.
Durante a fase pré-carolina (séculos VII-VIII), a escrita uncial ainda era amplamente usada para textos bíblicos e litúrgicos, e a elaborada variedade romana foi engenhosamente imitada em muitos centros anglo-saxônicos; mas outros textos foram escritos em várias minúsculas pré-carolinas, baseadas em tipos regionais de escrita documental derivados da cursiva romana posterior. Esses tipos incluíam a minúscula visigótica na Espanha e a minúscula beneventana no sul da Itália, as quais sobreviveram até os séculos XII e XIII, respectivamente. Na França, os tipos locais desenvolveram-se em scriptoria monásticos ou de catedrais, como Luxeuil (5), Corbie e Laon. As escritas insulares, que os irlandeses ensinaram aos anglo-saxões (século VII) e se propagaram a certos scriptoria do continente (sobretudo os das missões anglo-saxônicas e irlandesas na Alemanha), parece descenderem da caligrafia da Grã-Bretanha sub-romana (século V). O sistema, que incluía diversos graus de minúscula (6) e semi-uncial (7), nada devia à escrita continental sua contemporânea; mas os anglo-saxões aperfeiçoaram-no sob a influência da escrita livresca antiga tardia, que eles conheciam de livros mais antigos importados da Itália. Para os textos no vernáculo, a minúscula irlandesa durou até o século IX e a minúscula anglo-saxônica até o século XII.
A crucial fase Carolina (final do século VIII ao século XII) começou com novas escritas livrescas experimentais em numerosos scriptoria influenciados pela renovatio cultural de Carlos Magno; algumas eram simplificações sóbrias e diretas da minúscula pré-carolina, ao passo que outras dependiam substancialmente da semi-uncial romana. A minúscula Carolina canônica (8), que surgiu por volta de 800 no Scriptorium do palácio de Carlos Magno e em Saint-Martin-de-Tours, devia algo a ambas as tendências. A nova escrita tornou-se quase universal no continente por volta de 850 e dominou o sul da Alemanha e a Itália central (9) até fins do século XII.
A fase protogótica (final do século XI – final do século XII) originou-se na Inglaterra e em partes da França setentrional, influenciada pela versão da minúscula Carolina, incorporando características da minúscula anglo-saxônica do seu tempo, que tinha sido adotada nos scriptoria ingleses em torno de 950 para textos em latim (10). A minúscula protogótica (11) logo substituiu a Carolina como escrita livresca dos Países Baixos, norte da Alemanha, Escandinávia e Espanha. Entre, aproximadamente, 875 e 1125, a escrita documental pré-carolina tinha sido substituída na maioria das áreas por escritas documentais Carolina ou protogótica, as quais, entretanto, mantiveram com frequência a qualidade decorativa de suas predecessoras.
Durante a fase gótica (final do século XI – início do século XVI), numerosos tipos de minúscula mais pesada e mais comprimida (textura) foram usados para fins literários, desde os textos litúrgicos (12) aos universitários (13) e ao vernáculo; depois do século XIV, os tipos superiores só sobreviveram para textos bíblicos e litúrgicos, enquanto que os inferiores foram substituídos pelos da caligrafia livresca cursiva gótica. Alguns mandados régios ingleses já eram escritos em caligrafia semi-cursiva por volta de 1150 e, em 1230, a cursiva anglicana gótica plenamente desenvolvida (14) era a norma para todos os documentos e registros públicos e privados na Inglaterra. Um cursivo documental semelhante estava em uso em toda a Europa por volta de 1250 e a maior parte de seus tipos regionais mais antigos tinha sido abandonada em 1375-1425, em favor de um tipo elegante que fora aperfeiçoado na chancelaria real francesa por volta de 1350 (15); as caligrafias quinhentistas da secretaria e da corte na Inglaterra descenderam desse cursivo gótico francês e da escrita anglicana, respectivamente.
Na Itália, com a escrita protogótica limitada a regiões de influência francesa nos extremos norte e sul, a minúscula Carolina deu lugar, por volta de 1200, a caligrafias livrescas góticas, incluindo a litera rotunda típica de livros litúrgicos e a litera bonomiensis (16) dos compêndios jurídicos, ambas introduzidas por copistas da Universidade de Bolonha. Também de origem bolonhesa foi a cursiva notarial gótica, enquanto que a cursiva mercantil gótica era de origem toscana. Petrarca (m. 1374) escreveu em minúsculas semigóticas que criaram moda e incluíram tipos de cursiva largamente usadas por notários e alguns humanistas (17) no século XV. A litera hybrida (18), criada depois de 1425 nos Países Baixos e norte da Alemanha, baseou-se na escrita semigótica dos breves papais.
A fase final, humanística, principiou em Florença (c. 1400) quando Poggio Bracciolini inaugurou a litera antiqua (19), uma versão revista da minúscula Carolina da Toscana do século XII. Niccolò Niccoli cruzou-a com a sua própria cursiva mercantil (c. 1420) para produzir a mais rápida e mais econômica cursiva humanística que é a ancestral direta de toda a moderna caligrafia europeia. Ambas as escritas se destinavam à transmissão de textos clássicos mas, por volta de 1460, a cursiva (20) tinha sido adotada para breves papais e correspondência diplomática. Os tipos romano e itálico basearam-se na litera antiqua (c. 1460) e na cursiva (c. 1500), respectivamente. Na Itália, por volta de 1500, os livros litúrgicos e a correspondência comercial ainda eram em caligrafia gótica, e os documentos notariais, em sua maioria, na semigótica, mas o triunfo de escritas e de desenhos humanísticos de caracteres estava assegurado. No resto da Europa, a escrita gótica sobreviveu até o século XVIII, e na Alemanha até 1945. (DIM)
LIVRO — CALIGRAFIA
Oscar Freire
Como contraste a lo citado y a pesar de la generalizada invasión de una cultura secularizada y tecnificada, podríamos decir que aún hoy, en algunos lugares de oriente las artes tradicionales del libro parecen resistir los alterados ritmos del mundo moderno. Así, es posible constatar en algunas cofradías la vigencia de una transmisión artesanal que se ocupa generalmente del simbolismo en la ornamentación bibliográfica y especialmente en la escritura, cuyo valor caligráfico posee grados de ese simbolismo casi totalmente desconocidos e incomprensibles para la mentalidad moderna. De tal modo, que es posible comprender el status de raro y nobilísimo oficio que tradicionalmente se otorga a dichas artes en oriente.
En lo que al arte caligráfico tradicional concierne, conviene destacar, aquello que aún hoy sorprende que se desconozca, ya que es motivo del notable error de los eruditos modernos que siempre lo han considerado como un arte menor y, por extensión, como a un elemento de orden meramente decorativo. Este lamentable punto de vista, posiblemente, haya contribuido al no apercibimiento de aquellos precedentes que en la propia antigüedad y edad media de occidente concernían a las técnicas precisas de los escribas, cuyas reglas abarcaban todos los fenómenos de composición en estricta reflexión con los arquetipos celestes.
Como para dar, de esto último, algunos ejemplos y subrayar que el arte tradicional caligráfico es originario de oriente, podríamos hacer referencia que en China, la caligrafía se halla indivorciablemente unida a la poesía y a la pintura en una tríada derivada de específicos e ideográficos rasgos primordiales revelados, como habíamos dicho, al Emperador Fo-Hsi)). Dichos rasgos, poseen el carácter de wen, es decir, que tomando en cuenta a sus inagotables sentidos y al margen de sus usos tardíos en literatura y en lingüística, se remonta dicha noción a representar primeramente a la esencia que anima a las mas diversas combinaciones y, secundariamente, como clave capaz de interpretar hasta las huellas del paisaje o las rugosidades de los árboles y de las piedras. Por lo dicho anteriormente, en este contexto, se ha de comprender la capacidad de representatividad operatoria de quienes dominen este arte tradicional, máxime, teniendo en cuenta a las funciones simbólicas y rituales del pincel, la tinta y el papel en relación a los gestos rituales y a la ((respiración que son identificados con el “aliento primordial” o ch’i.
Igualmente, en el Islam, el arte caligráfico tradicional ha adquirido sus mas elevadas expresiones de belleza y de trascendencia. Los maestros calígrafos musulmanes supeditan sus fórmulas de oficio a la eficacia y simbolización de la tabla, el tintero y el cálamo. En el esoterismo islámico este ultimo se identifica con la “caña primordial” o Inteligencia primera”, de la cual se afirma que proceden todos los demás seres, los sensibles y los inteligibles. De la caña nace la producción musical (ritmo) y la escritura. De hecho, ciertas cofradías utilizan aún la simple caña, cuya recolección, preparación y cortes precisos se rigen por los ritos artesanales y por los símbolos tradicionales imbuidos del espíritu coránico. Del mismo modo, es posible constatar aquí la misma operatoria o poderes de transformación que reglan a la propia manifestación y tradicionalmente utilizados tan sólo como soportes de la virtud intercesora que lleve a la contemplación intelectual o a la captación inmediata de la Esencia del Ser.