VIDE espiritualismo
Já em princípios do século XX se tinha constituído na França, sob a influência de Bergson, uma escola muito extensa, a qual foi também simultaneamente influída pela “crítica da ciência” e pelo pragmatismo norte-americano, mas que avançou mais longe que o próprio Bergson na direção vitalista e irracionalista. Quase todos os seus representantes são pragmatistas declarados e os restantes são voluntaristas, para os quais a vontade se avantaja à inteligência e a verdade representa, como em Schiller, um valor vital.
Ultrapassaria os limites desta exposição o estudo pormenorizado destes sistemas, que, aliás, se distinguem mais por seu radicalismo do que por sua originalidade. Todavia merece atenção o desenvolvimento de uma parte desta escola: se antes da primeira guerra mundial se apresentavam como filósofos extremamente radicais, atualmente mostram-se muito mais moderados, de sorte que podem ser considerados quase como intelectualistas. De fato porém — com a só exceção de Blondel — são adversários declarados do valor cognitivo da inteligência e pragmatistas, que concebem a verdade como adaptação à vida. Sua filosofia é biológica, sem todavia possuir aquela profundidade com que seu mestre espiritual comum, Bergson, desenvolveu esta concepção do mundo.
Entre os filósofos contemporâneos deste grupo importa citar, por um lado, o psicólogo Maurice Pradines, um dos an-ti-racionalistas mais radicais, o moralista Jean de Gaultier (1858-1942), que une ao irracionalismo um idealismo subjetivo, e, finalmente, o grupo de pensadores católicos que se formou, sob a influência de Bergson, entre os discípulos de Leon Ollé-Laprune (1839-1899). Alguns dentre eles, como Alfred Loisy (1857-1940) e Lucien Laberthonnière (1860-1931), assumem importância mínima em filosofia, apesar de terem desempenhado papel de relevo no movimento modernista. Outros, em particular Edouard Le Roy (1870-1954) e Maurice Blondel (1861-1949), ainda continuam fazendo-se notar na filosofia contemporânea. Blondel não é irracionalista declarado, pois que até se aproximou fortemente da metafísica. Vale a pena recolher aqui sua declaração de que “por toda a parte, no início do processamento científico… intervém um decreto” e que “a ciência não nos proporciona nenhuma conclusão acerca do fundamento das coisas”, uma vez que “sua liberdade é ilimitada”. Portanto, Blondel é mais céptico, relativamente à ciência, do que Bergson, que lhe atribui sempre a capacidade de penetrar na essência da matéria. Todavia, Le Roy é ainda mais radical. Segundo ele, a ciência é puramente convencional, e não só as teorias científico-naturais como também as formulações sobre os fatos possuem caráter meramente convencional. O científico é quem cria a ordem das coisas; ele desenha fatos na matéria informe do que é dado. A ciência racional nada mais é que um puro jogo formal de sinais sem significação interna, que uma artimanha do espírito para dominar o mundo. O mesmo se pode asseverar dos dogmas religiosos, nos quais não é possível encontrar sentido concebível. Não são mais do que fórmulas, regras práticas de vida. Le Roy admite a existência de Deus, mas nega que possamos demonstrá-la racionalmente. [Bochenski]