banausia

(gr. banausia).

Essa palavra, que em grego significa arte mecânica ou trabalho manual em geral, implica uma valorização desse tipo de atividade como coisa grosseira e vulgar. Heródoto (II, 155 ss.) já observava que tanto os gregos quanto os bárbaros estão de acordo ao considerarem inferiores os cidadãos que aprendem um ofício e os seus descendentes, e ao considerarem superiores as pessoas que se mantêm afastadas dos trabalhos manuais e, sobretudo, as que se dedicam à guerra. Xenofonte (Econom., IV, 203), por sua vez, afirma que “as chamadas artes mecânicas trazem em si um estigma social e estão desonrando as nossas cidades”. E, em Gôrgias (512 b), Cálicles diz que, embora o construtor de máquinas bélicas possa ser útil, “desprezá-lo-ás bem como à sua arte, chamá-lo-ás ofensivamente banausos e não desejarias dar tua filha como esposa a seu filho nem desejarias que teu filho se casasse com uma de suas filhas”. Aristóteles diz explicitamente (Pol., III, 4, 1.277 ss.) que o poder senhorial é próprio de quem não sabe fazer as coisas necessárias, mas sabe usá-las melhor do que os que se lhe submetem. O saber fazê-las é próprio dos servos, isto é, “da gente destinada a obedecer” e é coisa tão humilde que “não deve ser aprendida nem pelo político nem pelo bom cidadão, a não ser que lhes proporcione uma vantagem pessoal”. Essa noção de banausia, na sociedade antiga, permitia a divisão da própria sociedade em duas classes: os que extraíam os meios de vida do trabalho manual e eram destinados a obedecer e os que se haviam libertado da escravidão do trabalho manual e eram destinados a mandar.

Com algumas exceções, essa concepção durou por toda a Idade Média e foi só com o Renascimento que se começou a introduzir no mundo moderno o conceito de dignidade do trabalho manual (v. trabalho). [Abbagnano]