Foi exatamente para não confundir os movimentos instintivos com os movimentos livres, que os escolásticos e em particular Santo Tomás distinguiram entre a vis aestimativa, a vis cogitativa e a vis intellectiva. O ato espontâneo, como o voo do pássaro, como o crescer da árvore, esse “reflexo de liberdade” pode ser uma libertas a coactione, uma liberdade de coação, mas não uma liberdade verdadeira, uma libertas a necessitate; a liberdade não é um reflexo, mas uma faculdade radical, intrínseca, interna, que tem uma de suas manifestações precisamente na negação da resposta reflexa e automática; a liberdade, tal como existe, nega a reflexologia, porque consiste na possibilidade de escolha entre cousas diversas ou opostas, isto é, consiste em negar o automatismo da repetição reflexa. O ato livre não é oriundo do psíquico orgânico, mas da consciência, a qual implica a liberdade, porque implica a escolha, a possibilidade de atos diversos, em contraposição à resposta automática dos gestos uniformes. E por isso é que antigamente o ato humano foi concebido como excluindo os atos da vida negativa e sensitiva e os atos espontâneos, nos quais não há deliberação, nem liberdade. Nem mesmo o ato voluntário é necessariamente livre, porque a violência externa ou interna pode produzir atos voluntários, mas não livres. (Os escolásticos ensinavam que todo ato livre é voluntário, mas nem todo ato voluntário é livre). — Ora bem, o pavlovismo não vai além da confusão entre o ato espontâneo e o ato livre; considera livre o ato espontâneo, — porque não conhece o sentido da deliberação. Não distingue entre o ato espontâneo e o ato livre, porque não pode, dentro de seus limites, distinguir entre a natureza de uma resposta automática e a natureza do ato que procede de um princípio intrínseco, com conhecimento do fim. [Barbuy]