atividades

VIDE atividade

Todas as atividades humanas são condicionadas pelo fato de que os homens vivem juntos, mas a ação é a única que não pode sequer ser imaginada fora da sociedade dos homens. A atividade do trabalho não requer a presença de outros, mas um ser que trabalhasse em completa solidão não seria humano, e sim um animal laborans no sentido mais literal da expressão. Um homem, obrando, fabricando e construindo [working and fabricating and building] um mundo habitado somente por ele mesmo, seria ainda um fabricador, embora não um homo faber: teria perdido a sua qualidade especificamente humana e seria, antes, um deus – certamente não o Criador, mas um demiurgo divino como Platão o descreveu em um dos seus mitos. Só a ação é prerrogativa exclusiva do homem; nem um animal nem um deus é capaz de ação [v. deuses], e só a ação depende inteiramente da constante presença de outros. [ArendtCH, 4]


Se uma atividade é realizada em privado ou em público não é, de modo algum, algo indiferente. Obviamente, o caráter do domínio público tem de mudar de acordo com as atividades que nele são admitidas, mas, em grande medida, a natureza da própria atividade também muda. A atividade de trabalhar, embora relacionada, em qualquer circunstância, com o processo vital em seu sentido mais elementar, o biológico, permaneceu estacionária durante milhares de anos, aprisionada no eterno retorno do processo vital ao qual se encontrava ligada. A promoção do trabalho à estatura de coisa pública, longe de eliminar o seu caráter de processo – o que seria de se esperar, se lembrarmos que os corpos políticos sempre foram projetados com vistas à permanência e suas leis sempre foram compreendidas como limitações impostas ao movimento –, liberou, ao contrário, esse processo de sua recorrência circular e monótona e transformou-o em progressivo desenvolvimento, cujos resultados alteraram inteiramente, em poucos séculos, todo o mundo habitado.

Quando a atividade do trabalho foi liberada das restrições que lhe eram impostas por seu banimento no domínio privado – e essa emancipação do trabalho não foi uma consequência da emancipação da classe operária, mas a precedeu –, foi como se o elemento de crescimento inerente a toda vida orgânica houvesse completamente superado e prevalecido sobre os processos de perecimento por meio dos quais a vida orgânica é controlada e equilibrada no lar da natureza. O domínio social, no qual o processo da vida estabeleceu o seu próprio âmbito público, desencadeou um crescimento artificial, por assim dizer, do natural; e é contra esse crescimento – não meramente contra a sociedade, mas contra um domínio social em constante crescimento – que o privado e o íntimo, de um lado, e, de outro, o político (no sentido mais restrito da palavra) mostram-se incapazes de se defender. [ArendtCH, 6]