O adjetivo artesanal diz respeito à habilidade ou ao hábito de uma classe de trabalhadores, denominados artesãos, na confecção de um artefato. No pensamento medieval, essa habilidade, no entanto, não se referia primordialmente só à produção do objeto arte–fato. Pois o artefato aqui não era propriamente um objeto fabricado, mas sim uma obra, em cuja elaboração, a própria humanidade do artesão, isto é, o ser do homem se perfazia, vinha a se tornar cada vez mais ser próprio. A obra não era outra coisa do que o vir à luz, o vir a uma determinada consumação desse perfazer-se ou realização do próprio ser dessa existência vivida e assumida pelo medieval. A habilidade do artesão em latim se diz ars (-tis). Trata-se, pois, da competência de um agir todo próprio, cujo modo de ser se caracteriza como um saber que está por dentro de e capta a dinâmica da possibilidade de ser, do poder ser. Esse saber no alemão é Kunst. Kunst vem do verbo können, que significa saber poder. Na ars, na Kunst não se trata da potência de uma força natural, mas sim de uma possibilidade da concreção humana na habilitação do seu ser, conquistada a duras penas, a partir de um dom natural, e tomada sua segunda natureza, denominada virtude [em latim virtus, isto é, vigor do varão]. A um tal saber poder se chega mediante o empenho de busca, no uso da inteligência e vontade, isto é, no exercício da liberdade, em contínuo e bem orientado exercício de aprendizagem. É dom de uma conquista, pois o surgir, crescer e consumar-se na realização desse perfazer-se não são causados simplesmente pelo arbítrio de quem busca, mas salta da total disponibilidade de dar de si o melhor para acolher a possibilidade finita, concedida gratuitamente de antemão à pessoa, que se encontra em busca; e da prontidão cordial em seguir (o seguimento) a condução que lhe vem ao [243] encontro, do fundo dessa própria possibilidade. É desse encontro do empenho de total doação de si e do dom da possibilidade gratuita que salta a possibilidade do ser inteiramente novo como obra de uma criação, do perfazer-se de si, como obra da perfeição. [Harada; HaradaEckhart2:243-244]