A antiguidade, para todas as épocas da cultura que já foi «ocidental», e hoje é pouco menos do que ecumênica, pelo menos a partir do Renascimento, é, genericamente, uma só: a que veio a chamar-se clássica, com suas duas componentes, Grécia e Roma. Não digo que a História não tenha chegado mais além — o Egito, a Mesopotâmia, as culturas pré-históricas e proto-históricas do Mediterrâneo, lato sensu, aí estão para testemunhá-lo. Mas é bastante significativo o facto de que, por exemplo, a egiptologia e a assiriologia nunca tenham sido incluídas em qualquer curriculum de estudos clássicos. Só o grego e o latim, a civilização grega e romana, constituem, e sempre constituíram, ou se constituíram, objeto de studium generale, o que é bastante revelador da bem firmada consciência cultural de que na Grécia (e em Roma) é que está a antiguidade presente a qualquer presença epocal, isto é, a todas essas presenças de presentes, o que, para mim, é outro modo de falar em épocas históricas de uma Idade Moderna. Mas atente-se no que eu disse há poucos instantes: «a antiguidade, para todas as épocas… é genericamente uma só». Agora sublinho o «genericamente», no bem deliberado propósito de chamar a vossa atenção para a especificidade da imagem da Grécia presente à presença de cada presente. Quantas «Grécias» não há na Grécia?! Pelo menos uma em cada época! Tivemos uma Grécia renascentista, uma Grécia iluminista, uma Grécia romântica; e agora temos a Grécia que bem poderia adjetivar-se de neo-humanista. Todas completas. Não falta, em cada uma delas, traço configurativo, necessário para a erigir em forma expressiva de uma civilização especificamente distinta de qualquer das outras que se conheça ou se julgue conhecer. E se alguma veracidade pode ser atribuída a estas últimas proposições, dizer se poderia, também, que a atualidade de uma época, ou a mais próxima presença de um presente, tem a sua própria definição em sua imagem da Grécia antiga. A atualidade lê-se na antiguidade que ela reflete, com a vantagem de, na distância, se esvaírem o supérfluo e o acessório. À distância, bem nos apercebemos da floresta, sem que as árvores próximas nos obstruam a visão. [EudoroMito:341]