Andrógino

O símbolo é o «todo». E mais uma vez recorremos ao Eros. Por muito belo e verídico que seja o discurso de Diotima, no Symposium de Platão, um quase tanto me parece ser o de Aristófanes, com todo o humor da sua fantasia pelo menos, o sentido [107] dele é imediatamente inteligível, neste contexto. O rebuscamento que nos faz sorrir não prejudica a seriedade do «mito»: o Andrógino é um símbolo ou, se não, bem o sugere. Facilmente rola o esférico conjunto de varão e mulher, na íngreme escalada, que os deuses temem por atentado ao seu poderio. Mas, indistintos, como indistintos foram Céu e Terra, antes da separação cosmogônica, esses espécimes do homem integral, que viria a ser macho e fêmea, possuíam, possuindo-se sem o querer, sem o desperdício da energia que viriam a despender, quando, divididos, metade buscava metade, força bem capaz de se igualar, ou mesmo, de exceder a de uma divindade que também se repartia por sexos opostos. Mas o Andrógino, como símbolo, não é a metade reunida à metade, é metade e metade mais o que ambas reúnem em «todo», divisível em duas metades. [EudoroMito:107-108]