América

(in. America; fr. Amérique; al. Amerika; it. America).

Os filósofos do Romantismo tiveram participação ativa na “disputa no Novo Mundo”, que se iniciou em meados do séc. XVIII e pode-se dizer que ainda perdura, a propósito da inferioridade ou superioridade da América. A tese da fragilidade ou da “imaturidade” das Américas nasce com Buffon, que, examinando comparativamente as espécies animais na América e na Europa, concluía que na América “a natureza viva é bem menos ativa, bem menos variada e, pode-se dizer também, bem menos forte” (OEuvres, ed. 1826-28, XV, 429). As teses de Buffon foram polemicamente amplificadas pelo abade De Paw, num texto de 1768, Recherches philosophiques sur les Américains. Nas mãos de Hegel, as observações de Buffon e De Paw tornam-se, em conformidade com seu espírito, “determinações absolutas”, verdades necessariamente deduzidas. A América é um mundo novo no sentido de ser imaturo e fraco; nele, a fauna é mais débil, mas em compensação a vegetação é monstruosa. Nela faltam os dois instrumentos de, progresso civil, o ferro e o cavalo (Enc., § 339, Zus). A América é, portanto, um mundo novo no sentido de ser jovem e imaturo. Até mesmo o mar entre a América do Sul e a Ásia “manifesta uma imaturidade física quanto à sua origem”. E, por tudo isso, “a América sempre se mostrou e mostra-se ainda impotente, tanto do ponto de vista físico quanto do espiritual” (Phil. der Geschichte, ed. Lasson, pp. 122 ss.). É bem verdade que, talvez mesmo por essa imaturidade, a América é “a Terra do futuro, para a qual, em tempos futuros, talvez na luta entre o Norte e o Sul, se voltará o interesse da história universal”. Mas Hegel logo acrescenta: “Como terra do futuro, ela absolutamente não nos diz respeito. O filósofo não entende de profecias. Pelo lado da história nós temos mais a ver com o que foi e com o que é, ao passo que na filosofia não nos ocupamos nem do que só foi, nem do que só será, mas do que é e é eternamente: da razão; com o que já temos muito que fazer” (ibid., ed. Lasson, p. 129). Schopenhauer, por sua vez, repetia as observações (se assim se podem chamar) sobre a inferioridade da fauna americana e dos indígenas; e acrescia, na linguagem florida das suas invectivas, uma descrição dos Estados Unidos como de um país próspero, mas dominado por um vil utilitarismo e por sua inevitável companheira, a ignorância, que abriu caminho à estúpida beatice anglicana, à tola presunção e à brutal vulgaridade, aliada a uma estulta veneração pelas mulheres (Die Welt, II, 44; Parerga, II, VI § 92). Da mesma tendência denegridora não se exime o outro ramo do Romantismo, o positivismo, que, através de Comte, desvaloriza o alcance da revolução americana, vê nos Estados Unidos uma “colônia universal” e considera a sua civilização de todo desprovida de originalidade e uma simples filial da civilização inglesa (Cours de phil. positive, V, 470-71; VI, 60 n.). Por outro lado, o mesmo Romantismo sugeria a Emerson uma exaltação mística da América, tão fantástica e arbitrária quanto as infamações dos românticos europeus (The American Scholar, 1837; The Young American, 1844). Já Humboldt notava (Ansichten der Natur, 1807) o caráter arbitrário e fantástico desses comentários que pretendiam ser “científicos” ou “especulativos” e que eram somente dogmatizações de preconceitos. Mas, apesar disso, os elementos da polêmica sobre o Novo Mundo permaneceram por longo tempo e talvez ainda hoje permaneçam os mesmos que apontamos (para mais detalhes, cf. América Gerbi, La disputa dei Nuovo Mondo, Milão-Nápoles, 1955). [Abbagnano]