(gr. aparnesis; lat. Abnegatio; in. Self-denial; fr. Abnégation; al. Verleugnung; it. Abnegacioné).
É a negação de si mesmo e a disposição de pôr-se a serviço dos outros ou de Deus, com o sacrifício dos próprios interesses. Assim é descrita essa noção no Evangelho (Mat., XVI, 24; Luc, IX, 23): “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz”. Essa negação de si mesmo, porém, não é a perda de si mesmo, mas, antes, o reencontro do verdadeiro “si mesmo”, como se explica no versículo seguinte: “pois quem quiser conservar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por mim, salvá-la-á”. Por isso nos Evangelhos, a noção de abnegação não é uma noção de moral ascética, mas exprime o ato da renovação cristã, pelo qual da negação do homem velho nasce o homem novo ou espiritual. [Abbagnano]
abnegação — sacrifício voluntário de si mesmo em benefício de outrem ou outros. (Vide : altruísmo, simpatia, compaixão).
Em latim abnegatio, ação de sacrifício.
a) Podemos analisar sob dois sentidos:
lato: — renúncia, sacrifício de alguém a tudo quanto tenha de egoísta, de individual nos seus desejos;
restrito: — sacrifício voluntário de uma tendência natural em benefício de outrem.
b) Psicologicamente: estado de espírito, que consiste numa disposição ao sacrifício de si mesmo; também, tendência natural, às vezes; temperamento tendente ao sacrifício; redução do afetivo; «sacrifício é uma abnegação que começa no coração … e abnegação é a forma intelectual do sacrifício». (Boisse).
c) Sob o ângulo cristão: «Negação do egoísmo para a con-auista de uma vida divina». (Mat., XVI, 24 — Luc, IX, 23).
d) Sentido ascético: — esquecimento de si mesmo, de tudo quanto é seu; «abandono de nós mesmos, entregando-nos à misericórdia de Deus (Leibnitz). Nesta acepção, é a negação de si mesmo, é o amor a Deus pela negação de nós mesmos («o eu odiento», «le moi haissable», de Pascal). Aqui se aproxima de sacrifício (vide), tornando-se uma renúncia intelectual.
e) Sentido de Calvino: «A justiça de Deus jaz na abnegação de nós mesmos em obediência à sua vontade».
f) Sentido de um grau de desinteresse, ou expressão de desinteresse, que ultrapasse o simples «esquecimento de si mesmo». (G. Belot).
g) Sentido vulgar: servir aos outros com desinteresse, renúncia, desprendimento. [MFS]