A questão social é a questão que tem por objeto a sociedade humana e sua ordenação. Quando certos grupos sociais se encontram em situação embaraçosa ou indigna, põe-se o problema das causas destes inquietantes fenômenos, assim como o dos meios para remediá-los.
A concepção do homem, que se tomar por base, estabelecerá a norma para determinar o conteúdo do problema e a reta ordenação por este exigida. Se o homem for concebido como um animal, superior, sem dúvida, mas destinado exclusivamente a uma existência terrena, será mister que as instituições da humana sociedade sejam totalmente ordenadas a proporcionar e assegurar a maior quantidade possível de felicidade terrestre, não a um reduzido grupo, nem mesmo “ao maior número”, senão a todos. Em termos grosseiros, a questão social passará a ser, em última instância, “um problema de estômago”. Se o homem é algo mais, se tem um fim superior, terá de se esforçar, então, em conseguir aquela ordem social que lhe ofereça (a cada homem em particular) os melhores expedientes para desenvolver sua personalidade e alcançar seu verdadeiro destino.
Na linguagem usual, entendem-se por questão social as anomalias especialmente sensíveis, consoante os casos, que ameaçam a estabilidade da sociedade humana e os esforços envidados para debelá-las. Tais esforços podem ter em mira uma reforma básica da ordem social: reforma social; limitam-se, porém, as mais das vezes, a mitigar ou tornar suportáveis aquelas anomalias, sem tocarem nas bases da ordem vigente: politica social no sentido estrito e geralmente usado do termo. A expressão “política societária” (em francês: politique sociétaire, em contraposição à expressão geralmente usada politique sociale) denota igualmente os esforços empregados para criar e conservar uma reta ordem social, tanto se para isso for preciso reformar a sociedade ou suprimir as deficiências existentes, quanto se não houver necessidade de recorrer a tais medidas.
A questão social da antiguidade foi a escravidão . Outra manifestação da mesma são o regime índio das castas ou os antagonismos raciais (p. ex., brancos, negros e índios na África do Sul). O industrialismo da Idade Moderna trouxe à superfície o problema dos operários, o qual, durante o século XIX, passou a ocupar o primeiro plano, a ponto de muitas vezes ser identificado pura e simplesmente com a questão social. De fato, esta questão foi empostada em sua forma mais aguda, quando o processo de proletarização despojou multidões cada vez mais numerosas da posição de sujeito que ao homem como tal compete na esfera social e econômica, e o fêz retroceder ao papel de mero objeto. Infelizmente, raros foram os espíritos que compreenderam a questão social com esta nitidez radical; pelo que, processou-se uma ampla política social inegavelmente meritória e indispensável, mas deixando de se levar a efeito a reforma social que as circunstâncias exigiam. — Através de toda a história da humanidade a questão social avança em forma de questão agrária, isto é, de ordenação social (jurídica) das relações do homem com o solo. Extremamente diversas têm sido as formas em que este problema se tem manifestado; em última instância, trata-se de criar sobre uma superfície circunscrita (a superfície terrestre) não só um espaço subministrador de alimentos (o que não é demasiado difícil), mas um espaço vital social para um número crescente de pessoas (famílias).
A “solução” da questão social seria o paraíso na terra. Todas as doutrinas que apregoam uma salvação terrenal são obrigadas a prometer essa solução e sucumbem à utopia (termo que significa “país não situado em parte alguma”), ao milenarismo (“reino de mil anos”). Só o conhecimento de um fim último e de uma vida ultraterrenos proporciona sensatez para trabalhar em prol do desaparecimento das deficiências sociais, sem que todavia prometam sua completa superação numa ordem social definitivamente perfeita. — Nell-Breuning. [Brugger]