pluralidade

Opõe-se a unidade e denota o “estar-dividido” do ser, mas de tal sorte que os vários elementos se excluem uns aos outros, como unidades. Uma vez que o ente, enquanto lhe convém o ser, possui unidade, a pluralidade (ou multiplicidade) deve ter suas raízes no nãoser.

Como, porém, não pode haver puro nãoser, mas sempre somente um não ser sustentado pelo ser, misturado com o ser, também não ó possível uma pluralidade pura, mas somente uma pluralidade sustentada pela unidade, mesclada com a unidade; quer dizer, a pluralidade realiza-se sempre só como unidade quebrada pela multiplicidade. Sendo assim, onde o ser, elevado acima de todo nãoser, existe com plenitude infinita, manifesta uma unidade absoluta sem qualquer pluralidade. Só onde o ser é limitado pelo nãoser e, portanto, é finito, há lugar para a pluralidade; finitude e pluralidade coincidem essencialmente: assim como não há pluralidade sem finitude, assim nãofinitude sem pluralidade. Duas formas de pluralidade são características do finito: a dos sujeitos do ser e das partes ou elementos constitutivos dentro de cada sujeito particular. Sob estes dois aspectos a pluralidade aumenta, quando aumenta a finitude.

Em primeiro lugar, Deus é único, porque esgota a infinita plenitude do ser. Como todo espírito finito possui só uma parte dessa plenitude, são muitos os espíritos finitos. Contudo, segundo S. Tomás de Aquino, no caso dos espíritos puros, um só indivíduo realiza já a perfeição integral de sua espécie. Assim, há muitas espécies, mas em cada espécie só um indivíduo. No caso dos homens, a espécie desdobra-se numa pluralidade de indivíduos, porque nenhum deles pode expressar em si a perfeição integral de sua espécie. Abaixo do homem encontra se, do ponto de vista metafísico, uma única espécie, a saber, a do ser infra espiritual. Todavia, como esta não pode ser esgotada de uma só vez, desarticula-se ela em três grandes espécies físicas: a do animal, a do vegetal e a do inorgânico, como num sem número de espécies empíricas, bem como em variedades sempre novas e em quase inumeráveis indivíduos. Este é, por assim dizer, o plano de fundo filosófico oferecido pela múltipla variedade do universo, a qual todavia apresenta, ao mesmo tempo, uma pluralidade de coisas homogêneas; por isso, pode ser apreendida em forma matemática, o que sobretudo se verifícamos casos em que a homogeneidade atinge seu máximo, a saber, no domínio do inorgânico. A unidade subjacente à pluralidade destes independentes sujeitos (portadores) do ser manifesta-se na unidade real, física, da ordem cósmica, e, no homem, na unidade espiritualmente real de suas comunidades.

Em segundo lugar, trata-se aqui da pluralidade de partes em si unidas num todo composto, o qual deixa de existir, desde que essas partes se separem. A absoluta simplicidade de Deus contrapõe-se já no espírito puro a dualidade de essência e existência, de substância e atividade. No corpóreo acresce ainda a pluralidade de partes essenciais (p. ex., corpo e alma) e de partes extensas (p. ex., os membros do corpo). — Sobre a pluralidade puramente conceptual, embora fundada na realidade. — distinção.

Ainda que a pluralidade radique no nãoser, ela não é algo de mal, algo que não-deva-ser (como o budismo ensina), nem mera aparência (como, talvez, opinem Parmênides e o bramanismo), nem, finalmente, só uma pluralidade de fenômenos dentro do mesmo ente (como afirmam Spinoza e, em última instância, todas as formas de panteísmo). A pluralidade recebe sua realidade integral unicamente do Criador transcendente, que quer manifestar e comunicar a unidade de sua riqueza numa pluralidade de seres independentes. — Lötz. [Brugger]