O termo “evolução” pode ser compreendido: 1.- como um processo pelo qual sai a lume um princípio interno e anteriormente oculto (p. ex., o desenvolvimento de uma ideia por parte do orador); 2.- como lenta e gradual transformação (a qual não é necessário que seja univocamente determinada nem dirigida a um fim; é o que sucede em muitas evoluções históricas); 3.- como transformação lenta e gradual, mas dirigida em determinada direção; 4. – como transformação que, do informe, uniforme ou pouco determinado, leva ao formado c ao plenamente determinado (= diferenciação); 5. – como transformação lenta ou intermitente (por saltos) de li ma forma ou espécie noutra. — Estas acepções abstratas da palavra “evolução” não se excluem necessariamente uma à out:-a. Algumas delas podem verificar-se em conjunto nos processos concretos que denominamos evolução. Tudo o que é mutável pode, de algum modo, estar sujeito a evolução.
Aos processos evolutivos no domínio da vida orgânica pertence a ontogênese ou desenvolvimento do germe vital até chegar à fase de ente formado e capaz de viver. É uma evolução no primeiro sentido atrás indicado (1), não no sentido da antiquada teoria da preformação, como se o organismo estivesse já pré-formado com suas partes no germe e pela evolução apenas se desenvolvesse e crescesse, mas porque só pela ontogênese vem à luz a intenção e o plano oculto da natureza. Como na ontogênese realmente se produz algo novo, recebe ela também o nome de epigênese ou neo-evolução. É, além disso, evolução no terceiro sentido do termo (3). Podemos igualmente incluí-la no quarto sentido apontado (4), não só quanto à estrutura, cada vez mais ricamente diferenciada, como também quanto à função: enquanto nos estádios mais primitivos cada uma das partes pode desempenhar qualquer função, depressa chega um momento, a partir do qual as partes mais e mais são determinadas para o exercício de suas funções, de sorte que não mais seja possível permutarem. Um complemento da ontogênese é a plena evolução das funções sexuais ou a maturidade sexual. Pelo contrário, o crescimento difere claramente da ontogênese, pois que já não produz nenhuma neo-formação. Podemos considerá-lo evolução no terceiro sentido do vocábulo (3), mas não no primeiro (1) nem no quarto (4). O envelhecimento e o declínio do organismo são unicamente evolução no segundo sentido (2). A outra importante evolução no reino do orgânico é a filogênese, o surto de espécies novas. Constitui uma evolução na quinta acepção da palavra (5) { Evolucionismo). O fato da evolução dirigida (3), como ela se mostra na ontogênese, não pode explicar-sc sem uma antecipação do fim antes de sua realização. A possibilidade indeterminada, no que tange à matéria, de cada parte poder desempenhar originariamente qualquer função, conduz ao problema do vitalismo.
A vida espiritual do homem mostra também uma evolução que supera os limites do orgânico e não lhe é necessariamente paralela. Em parte, está ligada ao sujeito: evolução pessoal; em parte ultrapassa o âmbito do indivíduo: evolução supra-pessoal. A evolução pessoal do homem podemos aplicar também as quatro primeiras acepções do termo (1 a 4). Ela encontra os limites de sua possibilidade nas disposições; profundamente influenciada pelo meio ambiente, ela mantém determinada sua direção por meio das livres decisões da vontade (Liberdade da vontade). À evolução supra-pessoal pertencem as evoluções históricas (nos sentidos primeiro (1), segundo (2) e, em parte, terceiro (3) de toda espécie (história das ideias, da cultura, do povo, da política, etc). Os fatos contradizem o preconceito de que a evolução supra-pessoal da humanidade se realize exclusivamente no sentido do progresso para o melhor e mais elevado.
No evolucionismo (ou filosofia da evolução), a evolução, mais (Spencer, Alexander) ou menos (Bergson) apoiada na ciência da natureza, converte-se em esquema de todo o processo do universo, processo no qual se manifesta e assume forma mutável o absoluto que lhe é subjacente. Nesta evolução, os processos ou estão desligados ou surgem uns dos outros (evolução emergente). Já Aristóteles observou que um devir absoluto sem um primeiro princípio dinâmico transcendente não pode resolver os problemas resultantes do nascer e do parecer. — Brugger.
Impõe-se um esclarecimento do termo evolução, tantas vezes empregado nos livros de ciência, mas nem sempre devidamente esclarecido no seu conteúdo esquemático.
Etimologicamente, o termo significa desenvolvimento, volver para fora o que já está contido em algo. Nesse sentido, evolução seria o desenvolvimento, pela atualização das possibilidades, das potências já inclusas virtualmente em algo. Deste modo, a evolução seria o processo das atualizações das potências dos seres, e nesse sentido lato todos estão de pleno acordo.
Assim o germe evolui até alcançar o indivíduo acabado. A evolução é, pois, uma ex-plicação, um “desembrulhar” das virtualidades que se atualizam, o efetivar-se do que já estava no germe. Há uma evolução no campo do indivíduo, como há também uma evolução no campo das espécies. Neste último caso, a espécie posterior e mais perfeita estaria em potência na inferior, cujo desenvolvimento terminaria por dar surgimento efetivo a uma possibilidade. E tal se dará ou por fatores internos ou por externos, ou por um desenvolvimento interno na espécie, que tenderia para a espécie superior, ou então essa passagem, esse desenvolvimento, dar-se-ia sob a pressão de fatores externos, que estimulariam o processo interno, segundo alguns, ou apenas faturariam o processo interno, que seria, nesse último caso, apenas um efeito de ação exterior.
A observação dos fatos biológicos leva facilmente a uma posição evolucionista, pois este pensamento é dominante na observação deles ao teorizá-los. Mas é evidente que há várias maneiras de considerar a evolução, e está nessas modalidades do pensamento evolucionista o motivo que gera as mais vastas discordâncias. Há necessidade, portanto, de esclarecer as divergências para depois analisá-las.
Há teorias que não aceitam a evolução, e há as que a aceitam.
Tanto nas primeiras, como nas segundas, há a aceitação de modificações:
a) por fatores internos
b) por fatores externos
c) pela interatuação de ambos.
As que não aceitam podem classificar-se:
1) Fixistas — admitem uma harmonia preestabelecida entre o organismo e o meio. Temos, em parte, o criacionismo clássico e o vitalismo moderno.
2) Preformismo — que admite que o organismo responde a qualquer situação, atualizando suas estruturas virtuais (posição mais do vitalismo moderno, mutacionista, e que corresponde ao apriorismo nas atitudes filosóficas). O meio ambiente tem um papel de “detector”. No terreno da Psicologia, temos as posições apriorísticas, que consideram algumas estruturas mentais como anteriores à experiência.
Esta apenas facilita a atualização de potencialidade latentes, como vemos nos inatistas clássicos. Aquelas são preformadas e não elaboradas pela experiência. Há correspondência com o intelectualismo, que explica a inteligência por si mesma.
3) Doutrina biológica da “emergência”, que afirma que as estruturas de conjunto são irredutíveis aos seus elementos, e determinadas simultaneamente de dentro para fora. As estruturas de conjunto são irredutíveis. Corresponde à fenomenologia moderna, e aos elementos exteriores, e as sínteses também à teoria da Gestalt, das “formas”, na Psicologia.
As que aceitam a evolução (evolucionistas) : 1) O Lamarckismo afirma a adaptação por pressão exterior. Essa ideia corresponde ao associacionismo, pelo qual o conhecimento resulta dos hábitos adquiridos, sem que nenhuma atividade interna, que constituiria a inteligência como tal, condicione tais aquisições. Corresponde também ao empirismo, que explica a inteligência pela pressão das coisas.
4) Por mutações endógenas com seleção (temos Darwin, aceitando-as através da concorrência). Há ensaios e erros. Corresponde ao pragmatismo, ao convencionalismo. Por ex. o espaço euclidiano tem três dimensões porque melhor correspondem estas aos nossos sentidos. (Há aqui adequação do espírito ao real).
3) Interatuação dos fatores internos e externos: é o que afirma o relativismo biológico. Corresponde à interdependência do sujeito e do objeto, da assimilação do objeto pelo sujeito, e da acomodação deste àquele. (O interacionismo afirma a colaboração indissolúvel entre a experiência e a dedução).
Do que foi analisado pode-se apresentar o seguinte esquema:
Evolução — adaptação —:
1. fatores internos
1.1 (mutações endógenas)
1.2 Relativismo correspondente ao interacionismo.
1.3 Mutacionismo (convencionalismo, pragmatismo).
2 fatores externos — lamarckismo (empirismo na filosofia).
Não evolução — adaptação —:
1. fatores internos — emergência (criacionismo – vitalismo)
fenomenologia
provocado
2. fatures externos
Corresponde às concepções dos fixistas, à da harmonia preestabelecida, às do preformismo, ao platonismo nas formas. [MFS]