O conhecimento sensorial é, do ponto de vista ôntico, todo conhecimento, em cuja elaboração intervém imediatamente órgãos corporais {órgãos dos sentidos externos, cérebro); definido, do ponto de vista do objeto, é a apreensão de meros fenômenos, em oposição ao ser e essência das coisas. Na realidade, ambas as definições coincidem, porque o conhecimento vinculado ao orgânico permanece sempre relativo e, inversamente, o conhecimento liberto do orgânico, intelectual, refere-se necessariamente ao ente enquanto tal. São objeto do conhecimento sensorial, antes de mais nada, as qualidades sensoriais (cores, sons, etc.) próprias de cada sentido (denominadas secundárias), mas estas em sua ordenação espácio-temporal (as “qualidades sensíveis primárias”: tamanho, forma, movimento, etc).
Há um conhecimento sensorial externo e outro interno, consoante é produzido por um excitante ou estimulante sensível que afeta os órgãos externos (olhos, ouvidos, etc), ou suscitado por causas psíquicas ou por excitações do órgão central (cérebro) sem influxo atual sobre aqueles. No conhecimento sensorial externo, os órgãos dos sentidos recolhem só um número muito reduzido de influências, dentre as muitas que continuamente afluem em tropel, vindas do mundo corpóreo; de sorte que a excitação, conduzida aos centros cerebrais pelos nervos sensitivos, leva à determinação da potência sensitiva e, mediante a produção de uma imagem sensorial, à consumação do próprio conhecimento sensorial (as sensações de luz, som, pressão, temperatura, gosto, olfato, dor, à percepção da posição espacial e do movimento do próprio corpo pelo sentido estático e cinestésico, às sensações orgânicas difusas, tais como fome, sede, fadiga). Cada aparato sensorial está de tal maneira sintonizado com os excitantes a ele especialmente ordenados (adequados), que quando também excitantes inadequados (p. ex., pressão sobre o globo ocular) provocam uma sensação em geral, só pode responder com imagens sensitivas de sua própria classe (p. ex., sensação de luz) (qualidades sensoriais específicas). A própria imagem sensitiva não pode ser concebida como representação inconsciente das propriedades das coisas que se mostram imediatamente em seu ser-em-si, mas como imagem que se torna consciente, na qual se refletem circunstâncias do mundo exterior correspondentes à peculiaridade dos sentidos. Quanto à questão epistemológica de saber até que ponto aqui se verifica uma representação fiel à realidade, realismo. Os sentidos internos não produzem somente meras representações (em oposição às sensações causadas por estímulos externos e às percepções), sejam elas imagens da memória ou representações da fantasia livremente formadas, mas têm também sua importância insubstituível para a formação da imagem perceptiva. A escolástica clássica, seguindo o trilho de Aristóteles, distingue quatro ou cinco sentidos internos: o sentido comum (sensus communis), a fantasia, a memória, a “estimativa” (vis aestimativa) e, além disso, no homem, a “vis cogitativa” (acaso traduzível por força configuradora). O sentido comum, raiz comum dos sentidos externos, reúne os dados destes no espaço intuitivo único, localizando, p. ex., o som ouvido em determinado lugar do espaço visual. A fantasia e a memória, em virtude de impressões anteriormente recebidas, completam a visão fragmentária das coisas dada no momento (acrescentam, p. ex., em certo modo a representação do reverso ainda invisível de um objeto) e estruturam, dentro do que é dado sensorialmente, a ordem do tempo. A estimativa relaciona o dado como útil ou nocivo com a vida global do ser sensitivo; ordenação esta que se verifica principalmente pelos sentimentos de prazer e de desprazer (instinto). No homem, a estimativa é elevada a “cogitativa” ou “força configuradora” por uma influência oculta do entendimento, força que reúne (coagitat; donde o nome de cogitativa) as impressões em formas concretas que se destacam do mundo circundante, as quais, como imagem sensível correspondente ao conceito de uma coisa corpórea (p. ex., da mesa), são ponto de arranque imediato para a atividade do entendimento. — O “sensus intimus”, admitido pelos escolásticos recentes, mediante o qual devem ser percebidos os atos sensitivos de conhecimento e de tendência, e neles o próprio sujeito de maneira concreta, melhor se poderia conceber como sendo a nota característica da consciencialidade, que convém igualmente a todos os atos sensitivos (consciência). — Se além do conhecimento sensorial obtido pelos sentidos conhecidos existe uma chamada “percepção extra-sensorial”, é questão a ser discutida noutro lugar (ocultismo).
A importância do conhecimento sensorial no âmbito da vida animal esgota-se, pelo fato de incitar a modos de operar essenciais para a vida. Pelo contrário, no homem, o conhecimento sensorial, como instrumento da inteligência, alcança seu máximo significado, primeiro porque subministra a maior parte do material para a formação dos conceitos intelectuais, e, em segundo lugar, porque o pensamento por abstrato que seja, deve conservar, sempre, por natureza, a relação com imagens sensíveis. Pelo que é de suma importância para a formação da inteligência o prestar atenção ao conhecimento sensorial e o cultivo razoável do mesmo. — De Vries. [Brugger]