Na FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS COSTUMES, escreveu Kant:
“nem no mundo nem fora dele é possível conceber algo que possa ser considerado como bom sem restrição, excepto uma boa vontade”, esta frase suscitou muitos comentários e vários tipos de críticas. Entre estas últimas, mencionamos especialmente duas que foram formuladas neste século: 1: alguns autores tentaram demonstrar que a noção de boa vontade é incompreensível ou inócua sem os valores e a sua hierarquia própria. Perante eles, pode alegar-se que a ética de Kant não é incompatível com uma ética axiológica na qual a boa vontade tenha a função de um valor de santidade.
2: por seu lado, os neopositivistas proclamaram que o vocábulo “bom” não possui por si mesmo significação, e por conseguinte, não pode fundar-se uma ética na noção de boa vontade. A isto pode responder-se que uma análise semântica do termo “bom” nada diz, todavia, sobre o fundamento das decisões morais. Outra polêmica, mais tradicional, refere-se ao próprio sentido da expressão “boa vontade”. Alguns críticos de Kant perguntaram-se em que medida a boa vontade se relaciona com os demais bens e se não é possível pensar que outros bens não possam conceber-se como ilimitados. Os defensores de Kant responderam que enquanto os bens não são a boa vontade dependem, para a sua bondade, de uma situação determinada: o saber é bom se for usado para um bom fim, o prazer é bom se contribuir para o valor moral, etc. A boa vontade, pelo contrário, não depende de nenhuma situação determinada. Isto implica que existem outros bens valiosos, mas como a situação é sempre um limite para eles, não podem considerar-se como o sumo bem. (Ferrater)