(gr. noetos; lat. intelligibilis; in. Intelligible; fr. Intelligible, al. Intelligibel; it. Intelligibilé).
Em geral, o objeto do intelecto. Aristóteles dissera: “todos os entes são sensíveis ou inteligível” (De an., III, 8, 431b 21). O inteligível é o objeto do intelecto assim como o sensível é o objeto dos sentidos. Essa simetria é mantida por todos os filósofos que admitem a distinção entre sensibilidade e intelecto. Platão denominou inteligível a esfera do conhecimento que compreende a dianoia e a ciência, distinta da esfera da opinião, que compreende a conjectura e a crença (Rep., VII, 534a). Para o neoplatonismo, o mundo inteligível compreende as três primeiras hipóstases: o Uno, o Intelecto e a Alma do Mundo (Plotino, Enn., II, 9, 1). Para Kant, o mundo inteligível é o mundo de que o homem faz parte como “atividade pura”, ou seja, não sendo influenciado pela sensibilidade, mas agindo com base na espontaneidade da razão. “Por um lado” — diz Kant —, “o homem, por pertencer ao mundo sensível, está submetido às leis da natureza; por outro, por pertencer ao mundo inteligível, está submetido às leis que não dependem da natureza, portanto não empíricas, mas fundadas unicamente na razão” (Grundlegung zur Metaphysik der Sitten, III). Nesse sentido, o mundo inteligível é o mundo moral.
Em sentido mais específico, diz-se que é inteligível o que pode ser entendido ou compreendido, em correspondência com os significados 2), c, de Intelecto. [Abbagnano]
Em diferentes formas e com diferentes vocábulos se tem distinguido, desde Platão, entre o sensível e o inteligível. Na medida em que Parmênides influiu em Platão, o sensível distingue-se do inteligível como a multiplicidade se distingue da unidade. Mas nos seus esforços por se desfazer das consequências, Platão admitiu também uma multiplicidade de inteligível ou ideal. O inteligível é, para Platão, as coisas na medida em que são verdadeiras, os seres que são, o sensível são as coisas na medida em que são matéria de opinião. A distinção entre o sensível e o inteligível encontra-se também em Aristóteles: as coisas sensíveis são objeto dos sentidos; as coisas inteligíveis são objeto do pensamento, da inteligência, da razão. O modo de distinguir e de relacionar o sensível e o inteligível, todavia, diferem em Platão e em Aristóteles: no primeiro há, por um lado, uma separação entre o sensível e o inteligível, e por outro lado uma relação de fundamentação: o inteligível é fundamento, pelo menos na medida em que é modelo, do sensível. No segundo não há separação entre o sensível e o inteligível; este encontra-se de algum modo no primeiro. Os escolásticos e em particular S. Tomás, falaram do inteligível como o cognoscível mediante o intelecto. O inteligível pode sê-lo por si mesmo (ou por sua essência), ou também sê-lo por acidente. O inteligível por si mesmo é apreendido imediatamente pelo intelecto juntamente com as suas manifestações. A noção de inteligível – tal como a noção contraposta, ou correlacionada, do sensível – oferece simultaneamente aspectos metafísicos e gnoseológicos. Metafisicamente, o inteligível é concebido como uma realidade – se não a realidade – na medida em que é “verdadeira realidade”, e esta por sua vez enquanto imutável. Gnoseologicamente, o inteligível é concebido como o aspecto pensável e racional da realidade. Os dois aspectos encontram-se com frequência entrelaçados. Em muitos casos, a concepção gnoseológica do inteligível encontra-se subordinada à sua concepção metafísica.
Num sentido muito mais geral, usa-se o termo inteligível – e termos tais como inteligibilidade – para se referir o “racionalmente compreensível”, o pensável. Neste sentido se fala da inteligibilidade ou não inteligibilidade das coisas, do real, do mundo em geral. [Ferrater]